Ruben Östlund provou ser um dos grandes diretores da nova geração nórdica com Force Majeure, excelente filme original que concorreu com méritos ao Oscar (e entrou na minha lista dos melhores de 2014). The Square, vencedor da Palme d’Or, conquistou Toronto e é o franco favorito a disputa do prêmio da Academia deste ano na categoria de longa estrangeiro. Com duas horas e meia de rodagem, Östlund apresenta uma trama carregada de humor negro a partir de um ciclo de decisões ruins que ganham força com a progressão do roteiro.
A base do filme é relativamente simples: Christian (Claes Bang) é curador de um importante museu e está organizando os últimos detalhes da nova exposição, que dá título ao filme. Enquanto se dirigia ao trabalho, ele cai em um golpe e seu celular é furtado. Sua carta na manga, no entanto, é um aplicativo que rastreia o celular e diz sua localização exata. Após descobrir que o telefone encontra-se em um complexo residencial, ele escreve uma carta ameaçando os ladrões e as coloca em cada apartamento do edifício.
Assim como o espetacular Force Majeure, temos aqui um prato cheio para a análise do protagonista, privilegiando uma sátira social de lenta construção, adicionando solidez aos diálogos e a história. Desta vez Östlund apostou numa integração maior com produtores do resto da Europa e dos EUA. Para tornar o filme mais atraente, pelo menos do ponto de vista de distribuição internacional, foi feita uma interessante escolha de destacar Elizabeth Moss – e sua personagem realmente entra na história como peça fundamental para destrinchar o senso de superioridade de Christian.
Dentro da ambiciosa ideia central do filme, temos campo para explorar cotidiano, sexo e até mesmo discussões morais. Aliás, é nos detalhes e nas cenas prolongadas que temos a certeza de que o diretor decidiu levar as telas a experiência completa do que imaginou nesta produção. Uma longa tomada de sexo e uma briga por conta de uma camisinha são a prova disso.
The Square, em meio a uma sinfonia de absurdos prazerosos, deixa várias mensagens subliminares sobre o mundo da arte e a relação de poder e cultura. Assim como a tão discutida arte pós-moderna, o espectador não encontrará respostas de bandeja para os questionamentos que ficam em aberto a partir do rolar dos créditos. Assistir e compreender The Square demanda uma boa dose de paciência. Mas a experiência final, garanto, é recompensadora.
NOTA: 7/10