Goste ou não, An Inconvenient Truth é um dos documentários mais importantes da história. Poucas produções despertaram tantas discussões e influenciaram tanto o meio acadêmico quanto o político para investir mais tempo nos estudos sobre as mudanças climáticas. An Inconvenient Sequel: Truth to Power (Uma Verdade Mais Inconveniente, no Brasil) não mantém a mesma pegada informativa de seu antecessor e oferece atualizações de relevância discutível, especialmente tendo em vista os gráficos espetaculares e as alarmantes tabelas vistas em 2006.
Infelizmente a nítida impressão deixada após uma hora e meia de rodagem é de que este documentário é uma forma de recolocar o nome de Al Gore como autoridade no assunto, seja nos Estados Unidos ou no mundo. É frustrante observar que a cada dez minutos existem passagens filmadas especialmente para levantar sua moral.
Para atingir o objetivo de firmar Gore como o grande nome de expressão no meio climático, os diretores Bonni Cohen e Jon Shenk seguem uma cartilha composta por dois grandes objetivos: o primeiro deles é efetuar uma divisão estrutural do documentário em dois momentos, tratando sobre a vida de Gore na última década (com clipes de suas reuniões com grandes líderes mundiais ou de seus encontros com jovens voluntários) para então criticar a falta de iniciativa dos governos, obviamente aproveitando para atacar Donald Trump. Por fim, Cohen e Shenk buscam moldar a imagem de Gore como um ex-político injustiçado por conta da eleição presidencial de 2000 que poderia estar disputando outros cargos mas que deixou de lado essa vida para defender uma nobre causa.
Não existe nenhum tipo de diálogo durante An Inconvenient Sequel. Seria ótimo, por exemplo, ver Gore rebatendo críticas de acadêmicos que posicionaram-se contra as ideias do documentário de 2006. Toda produção é rodeada por uma sensação forçada de medo, como se desastres naturais como furacões realmente dependessem apenas da atividade do homem.
Reconheço que até possa ser injusta uma comparação com An Inconvenient Truth, mas ela é forçada no campo comercial pelo próprio Gore. São documentários com objetivos bem diferentes que colocam em pauta questões que são tratadas através de diferentes metodologias de análise. Uma pena, pois merecemos uma discussão séria sobre tópicos relacionados ao clima, e Gore poderia muito bem fazer essa mediação.
NOTA: 5/10