Linklater, irreconhecível. É até estranho dizer que Last Flag Flying, mesmo com potencial, elenco de ponta e ótima produção, está entre os piores longas da filmografia do diretor. Como o diretor que passou doze anos trabalhando em Boyhood entrega um filme de televisão? Adaptado de um livro de Darryl Ponicsan e sequência espiritual de The Last Detail, de Hal Ashby, Last Flying Flag (A Melhor Escolha, no Brasil) peca pela completa falta de feeling para abordar os assuntos sérios que coloca em pauta.
2003. Larry (Steve Carell) recebe a notícia de que seu filho morreu durante uma investida na Guerra do Iraque. Após décadas sem contato ele busca reencontrar seus antigos parceiros, Sal (Bryan Cranston) e Mueller (Laurence Fishburne) para buscar o corpo do jovem e dar um funeral digno.
O filme tem passagens excelentes de humor. Seria uma dramédia de nível aceitável se não fosse o contexto do encontro e das piadas. Criar uma espécie de road movie pelos EUA carregando um caixão não é a melhor pedida. A reunião dos três companheiros é interessante, mas o espírito de união é superficial e não lembra nem um pouco o clássico de Ashby – e também não chega aos pés dos vários filmes de Linklater que exaltam a parceria.
Linklater deixa várias perguntas sem resposta. A principal diz respeito justamente ao motivo pelo qual Larry foi atrás dos dois antigos parceiros para buscar ajuda para enterrar seu filho. Nem mesmo as duas horas de rodagem ajudam a estabelecer – ou resgatar – um elo forte entre os antigos companheiros, já que suas vidas são completamente diferentes
Last Flag Flying erra completamente a mensagem final. O personagem de Bryan Cranston, que durante todo o filme clamava pela razão e adotava uma posição patriótica anti-estabilishment, fazendo uso desta característica para questionar a narrativa oficial do governo, por exemplo, é o principal afetado pela conclusão do filme, mais uma exaltação desenfreada do americanismo. A grande questão em torno do serviço militar e do histórico de invasões dos EUA fica para trás, ao mesmo tempo que o filme deixa o drama de lado para abraçar seu tom humorístico. É normal e recorrente entregar produções como esta, especialmente por discutirmos aqui sobre um passado muito vivo na memória coletiva, mas realmente esperava muito mais de Linklater. Decepção enorme!
* Festival do Rio 2017
NOTA: 5/10