O drama alemão Aus dem Nichts (Em Pedaços,no Brasil) vale pela atuação de Diane Kruger, premiada como melhor atriz em Cannes. No mais, o filme dirigido por Fatih Akin e escolhido para representar o país na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro utiliza dispositivos de enredo questionáveis para montar um filme com caráter político.
A intenção de Akin é clara: abrir um diálogo com a sociedade alemã para discutir a ascensão dos grupos de extrema direita no país. Por mais que tal atitude seja louvável do ponto de vista do realizador como um ser ativo na sociedade em busca de firmar sua posição e engajamento político, infelizmente o roteiro de Aus dem Nichts não contempla a mesma sabedoria. O timing, por exemplo, é questionável: o filme tem como base os ataques ocorridos entre 2000 e 2007 – mas é rodado em 2017, quando o extremismo islâmico é a principal preocupação do povo alemão.
O filme tem divisão em três partes, e a qualidade segue uma linha descendente. Na introdução, Katja (Diane Kruger) está na sua celebração de casamento com Nuri (Numan Acar) dentro da prisão, já que ele foi condenado por tráfico de drogas. No primeiro capítulo, anos depois, descobrimos que o casal tem um filho de seis anos e que Nuri tem seu próprio negócio. Certo dia, no entanto, Katja deixa a criança no trabalho de seu marido e descobre que os dois morreram após a explosão de uma bomba.
A sequência da história é extremamente problemática. A investigação do assassinato tem enormes furos, e não é necessário ser bacharel em direito para notar que o julgamento dos culpados (um casal de neonazistas) tem mais inspiração nos court shows dos Estados Unidos do que na própria justiça alemã. O único ponto positivo desta segunda parte é a atuação de Johannes Krisch, advogado de defesa do casal.
O comitê de cinema alemão parece que aposta mais na capacidade de Kruger no que no próprio filme. Não existe um motivo claro para apontar Aus dem Nichts para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, especialmente tendo em conta a ótima safra de filmes produzidos no país no último ano (Western, de Valeska Grisebach é muito mais sólido na sua proposta de analisar barreiras culturais, por exemplo). Mesmo com boa produção, esta é a pior indicação da Alemanha desde Aimée & Jaguar (1999), é provável que o país fique de fora até mesmo da shortlist de dezembro.
* Festival do Rio 2017
NOTA: 6/10