O cinema da Bulgária está em fase de expansão. Desde a década de 1970, o governo de lá envia para a Academia filmes para consideração ao Oscar de longa estrangeiro – e nunca recebeu uma nomeação, apesar do investimento do federal. Slava (Glory) é a melhor aposta do país. Segundo filme da trilogia de realismo social dos diretores Kristina Grozeva e Petar Valchanov, a lenta construção da trama e as ótimas interpretações são diferenciais que explicam o motivo deste filme ser o longa búlgaro mais premiado da história.
A premissa é interessante, oportuna e sólida. A partir de um caso isolado, busca-se conexões que perambulam entre vários temas em discussão no país, desde a forte estrutura burocrática até a diferença de vida da cidade para o campo. Tsanko (Stefan Denolyubov) é um simples trabalhador que faz reparos na malha ferroviária. Certo dia, ele encontra uma grande quantidade de dinheiro – e para a surpresa de todos, decide chamar a polícia ao invés de recolher as notas e ir para casa. A partir disso, sua vida começa a virar um inferno, já que Julia (Margita Gosheva), líder da equipe de relações públicas do Ministério dos Transportes, organiza um evento para celebrar a honradez de Tsanko – na verdade apenas um meio de promover a imagem da organização, que transborda indícios de corrupção. De origem humilde e com problemas na fala, o relógio de seu pai é o único bem de afeição – e este é retirado dele durante uma premiação do governo, ocasião na qual o Ministro lhe presenteia com um relógio de pulso digital.
A narrativa é um belo exemplo de como é possível trabalhar bem com uma microhistória na tela do cinema. Quando Tsanko busca seu relógio antigo, ele entra ativamente na vida de Julia e acaba arranjando inúmeros problemas. Grozeva e Valchanov trabalham bem com a enorme diferença de vida de Julia e Tsanko, construindo um lento clímax que fecha a produção de forma surpreendente, mantendo o público preso na cadeira até o último minuto da rolagem dos créditos.
Dentre todos os filmes que assisti neste ano, Margita Gosheva entrega a melhor atuação de uma atriz, com um feeling extraordinário que mostra as várias faces de Julia. Glory é bom pois não busca ser mais do que pode oferecer. Os diretores propõem uma narrativa não-convencional, que foge muito do padrão imposto pelo cinema dos EUA e diferencia-se até mesmo dos demais países da Europa. Para o espectador paciente, a recompensa é sensacional. Parabéns para a distribuidora Pandora Filmes por trazer ao Brasil uma película da mais alta qualidade.
NOTA: 7/10