Dirigido por Robin Swicord, Wakefield é um drama que foge dos padrões convencionais, investindo toda sua carga emocional em um forte protagonista. Ainda que o resultado final seja interessante, não há como negar que a lenta progressão do roteiro tem tudo para irritar os espectadores que não conseguirem se adaptar a proposta da trama desde os minutos iniciais.
Howard (Bryan Cranston) tem uma vida de luxo, com um carro importado na garagem e uma casa dos sonhos. No entanto, seu casamento com Diana (Jennifer Garner) passa por uma fase turbulenta, com constantes crises de ciúmes por parte do homem. A solução encontrada por Howard para enfrentar essa crise é bastante peculiar: ele simplesmente abandona sua casa, sua família e seus pertences para viver em um sótão com vista para sua casa. A partir dali ele espia a rotina de Diana, e nota como a vida dela se desenrola sem sua presença.
A atuação de luxo de Cranston, provando mais uma vez que é um dos melhores atores de sua geração, torna Wakefield agradável: ele interpreta um homem que está na fina linha que separa a loucura da sanidade ao propor um novo estilo de vida, quem sabe para se redescobrir e realmente entender quem ele é. É claro que Diana entra em desespero por não ter nenhuma notícia de seu marido, mas o ponto alto do filme é justamente notar como Howard interpreta essa situação e mesmo assim apenas observa a dor e angústia dos demais membros de sua família para estancar feridas do passado (que são contadas a partir de breves flashbacks, que passam desde o primeiro encontro entre o casal até suas recentes brigas).
Por não ter um roteiro metódico, ocorrem pequenos problemas estruturais que podem comprometer a proposta final: a relação temporal apresentada não é nem um pouco clara (e a duração do filme, um pouco mais longo do que o necessário) repassa a impressão de que várias cenas foram recicladas na sala de edição para tentar aprimorar alguns traços da personalidade de Howard. O desfecho aberto proposto por Swicord também é alvo de polêmica – mas neste sentido acredito que a proposta é justamente levar a questão para discussão com o espectador, sem forçar respostas.
Wakefield teve lançamento limitado nos Estados Unidos, e recentemente chegou aos demais mercados mundiais. Um longa que consegue espaço justamente por buscar um público alvo diferente, disposto a abraçar uma proposta que tenta unir thriller e drama existencial.
NOTA: 7/10