Mais uma vez Christopher Nolan entrega ao público um filme memorável. Dunkirk, baseado na histórica Operação Dínamo, apresenta excelentes passagens que deixam claro o espírito de sofrimento na guerra.
Confesso que fiquei extremamente preocupado com algumas notícias de bastidores, que passavam desde problemas de filmagem até a decisão de mandar para os cinemas um corte de pouco mais de 100 minutos, algo extremamente incomum para um filme com investimento de mais de 100 milhões de dólares.
Basta a primeira cena para que todos os temores fiquem de lado. Após os nazistas avançarem e encurralarem as tropas francesas, belgas e britânicas em Dunquerque, Churchill e os demais líderes militares dos aliados lamentam o estrondoso fracasso. Com o plano inicial de resgatar pelo menos 30 mil homens, em oito dias de operação mais de 330 mil soldados haviam sido resgatados – episódio classificado pelos britânicos como um milagre, dada a superioridade aérea e terrestre dos nazistas.
No filme, acompanhamos três narrativas distintas, que se encontram a partir do drama vivido na costa francesa. Por terra, testemunhamos o desespero do jovem soldado britânico Tommy (Fionn Whitehead), que tenta fazer o possível para voltar para casa o quanto antes; pelo ar, os pilotos da Royal Air Force Collins e Farrier (Jack Lowden e Tom Hardy) tentam eliminar o maior número de aviões nazistas para diminuir os violentos ataques; pelo mar, o Sr. Dawson (Mark Rylance) atende o chamado do governo para cruzar o canal com seu barco, resgatando no meio do caminho um sobrevivente (Cillian Murphy).
O roteiro extremamente inteligente de Nolan não busca dar a falsa impressão de superioridade aliada. Em 1940, a máquina de guerra nazista dominava e assustava a Europa, e é exatamente esse sentimento de incredulidade que é transmitido a cada ataque aéreo alemão. Com a espetacular trilha sonora de Hans Zimmer, os diálogos ficam em segundo plano. O filme tem uma estrutura geral de tanta qualidade que consegue aproveitar ao máximo o silêncio e o barulho dos gritos e dos motores para ilustrar com propriedade o horror da Segunda Guerra Mundial.
Com a maioria das cenas captadas via câmeras IMAX (outras tomadas específicas foram feitas com 70mm e 35mm), Nolan conta com o brilhante trabalho do diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema para apresentar um tom acinzentado, deixando claro que não existe beleza em meio a morte.
Dunkirk certamente é um dos melhores filmes desta década, e entrará para a história do cinema como um filme essencial em seu gênero, além de ser o melhor da carreira de Nolan até aqui. Espetacular do início ao fim!
NOTA: 10/10