Loving mostra a versatilidade de Jeff Nichols. Pensava-se que o diretor seguiria sua carreira no gênero de ficção – responsável pelos seus dois maiores sucessos – Take Shelter (2011) e Midnight Special (2016). Ao adaptar o complexo caso Loving v. Estado da Virginia com um roteiro original, nota-se o quanto Nichols valoriza a construção e análise de complexas estruturas sociais.
Richard Loving (Joel Edgerton) e Mildred Jeter (Ruth Negga) fizeram de tudo para viver um vida feliz e tranquila na Virgínia. O problema, no entanto, era que as leis estaduais não permitiam a união de um branco com uma negra. Quando a polícia descobre que os dois cruzaram a fronteira para Washington D.C para formalizar o casamento, eles são levados para julgamento e são expulsos do Estado. Anos depois, com a apoio da American Civil Liberties Union, em um contexto de luta pelos direitos sociais, o caso deles chega até a Suprema Corte.
Ruth Negga ganhou uma nomeação ao Oscar pela sua interpretação. Ainda que justa, não chega aos pés da maravilhosa atuação de Viola Davis em Fences (que, por sua vez, recebeu a nomeação para atriz coadjuvante, em um dos mais claros exemplos de uma pressão iniciada por um estúdio que acabou sendo acatada pela Academia e por quase todos os círculos de críticos). A grande atuação deste filme é de Joel Edgerton, no melhor trabalho de sua carreira, mostrando com extrema competência o drama pessoal de Richard Loving, que não era livre para amar.
São nos pequenos detalhes que Nichols surpreende seu espectador. O filme é perfeito do ponto de vista histórico, com referências sólidas. É uma pena notar que a Academia preferiu nomear um filme irresponsável como Hidden Figures ao invés de uma produção independente que sabe o seu limite máximo. Durante o desenrolar da história, Mildred envia uma carta para Robert Kennedy – que é repassada para a ACLU, associação que entra na briga contra o Estado da Virgínia e banca todos os custos do processo até a Suprema Corte. Em um projeto como o de Hidden Figures, a presença de RFK – conhecido pela sua luta pelos direitos civis – seria alvo de intensa análise e não me surpreenderia se ele fosse colocado como personagem do filme. Em Loving, Nichols tenta ser o mais fiel possível ao caso ao apenas citar a carta – que pode ser encontrada na Kennedy Library em sua versão original – sem fazer nenhuma firula adicional.
Loving é um retrato perfeito da segregação estadunidense entre as décadas de 1950 e 1960. Ao mesmo tempo em que existia a repressão por parte de alguns Estados (que fica claro na argumentação dos juízes, bem fixadas por Nichols), também existia integração em localidades do interior. O grande feito é de não tentar criar heróis, mas de apresentar uma história extremamente contundente que afetou diretamente a vida de milhões de americanos.
NOTA: 8/10
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