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Snowden (Snowden: Herói ou Traidor) – 2016

Edward Snowden tinha um excelente emprego que lhe permitia sonhar com a real possibilidade de ter uma família para viver o American Dream em todas suas instâncias. Este seria o caminho fácil para um gênio. Após o 11/9 e mergulhados em várias guerras, a inteligência do governo dos Estados Unidos dependia exclusivamente de pessoas como ele para fortalecer instituições como a NSA ou a CIA. Curiosamente, o título brasileiro Snowden: Herói ou Traidor remete para uma das questões norteadoras da campanha presidencial de 2016, além de ser amplamente discutida na mídia. Fazia tempo que Oliver Stone não demonstrava tamanha paixão por um projeto. Após um cinema político ativo na década de 1980, Nixon (1995) foi o último trabalho que apresentou o interesse de escancarar feridas abertas da sociedade estadunidense, alertando para a constante hipocrisia da mídia. Em Snowden, o retrato do mais famoso denunciante deste o infame Garganta Profunda do caso Watergate é dramatizado com muito vigor, abrindo uma ampla discussão sobre seu sacrifício pela humanidade.

Joseph Gordon-Levitt interpreta Snowden, um homem complexo. A narrativa não é abordada de forma sequencial, e a reunião em Hong Kong com a documentarista Laura Poitras (Melissa Leo) e com os jornalistas Glenn Greenwald (Zachary Quinto) e Ewen MacAskill (Tom Wilkinson) é o ponto máximo de interesse. Os flashbacks de sua vida no exército, de seus problemas com sua esposa, Lindsay (Shailene Woodley), além das várias questões éticas e morais envolvidas em seus trabalhos tem conexão direta com a proposta geral de Stone, e esse trunfo torna o filme de 135 minutos relevante por si só.

Com isto em mente, provavelmente o espectador que não viu o maravilhoso documentário Citizenfour ficará boiando em um bocado de passagens, já que Stone visa a fidelidade em passagens famosas apresentadas por Poitras. Em dois momentos, o diretor ainda articula cliffhangers para prender a atenção de seu público. Snowden não esconde em nenhum momento sua admiração pelo ex-empregado da NSA que revelou como os Estados Unidos vigiavam o mundo de forma ilegal. Ele é um mártir moderno, como evidenciado na interessantíssima passagem final.

Por ser um filme que fala sobre segredos de Estado, considero relevante que Stone manteve-se fiel a toda a ideia de vigilância 24 horas por dia. A pequena ação de cobrir uma webcam ou de bloquear a frequência dos celulares certamente instigará uma pesquisa subsequente. Isso faz de Snowden um excelente filme. Sem o apoio de uma grande produtora e sem o dinheiro de uma distribuidora internacional de peso, Stone volta a suas origens para instigar uma reflexão que exige a desvinculação do discurso partidário vigente nos Estados Unidos. A condenação do caráter de Snowden – feita por Barack Obama desde o primeiro dia  – vem com outra pergunta: e se ele não tivesse revelado nada? Somente com Snowden descobrimos o avançado nível de controle e as plataformas de espionagem que parecem fruto da ficção. Herói ou Traidor?

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NOTA: 8/10

IMDb

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