O atentado que vitimou Reinhard Heydrich, em 1942, já foi alvo de inúmeros livros e alguns filmes. Meses depois do caso, a MGM correu para produzir Hitler’s Madman, que tratava da chamada Operação Antrhopoid – nome dado pelo serviço de inteligência britânico ao plano. A United Artists, por sua vez, apresentou ao público Hangmen Also Die!, um noir dirigido por Fritz Lang com inspiração no evento. O filme de propaganda britânico The Silent Village, que tratava sobre o massacre orquestrado pelos alemães por conta do assassinato de uma das principais figuras do Terceiro Reich, teve ampla distribuição na Europa e nos Estados Unidos. O que motiva esse fascínio é simples: até então não se pensava que a resistência organizada teria condições de chegar a um nome dos quadros principais – seja do Partido Nazista, da SS ou do Exército. Anthropoid, dirigido por Sean Ellis, teria tudo para ser um filme definitivo sobre o caso, tendo em conta o investimento para recriar Praga e os cuidados com detalhes das vestimentas, por exemplo. A realidade, no entanto, mostra que o filme falha por dramatizar excessivamente seu eixo narrativo ao mesmo tempo que deixa de abordar questões de extrema relevância do caso.
Jan Kubis (Jamie Dornan) e Josef Gabcik (Cillian Murphy) são dois dos sete membros da resistência tcheca treinados em Londres. Ao voltar para a terra natal, eles descobrem que os nazistas conseguiram prender ou assassinar boa parte dos membros da resistência por conta das infiltrações da Gestapo. Mesmo assim eles seguem com a missão de assassinar Heydrich (Detlef Bothe).
Heydrich – que poderia ser um personagem sólido na construção do roteiro – aparece apenas na cena de seu assassinato. Para quem desconhece sua biografia, os crimes cometidos por ele ficam em segundo plano. Os tchecos, portanto, mesmo ao tentar justificar o assassinato acabam criando o cenário para um thriller tomar conta da tela: temos a consolidação de mocinhos e vilões que desfilam em uma cidade montada em cima do anacronismo histórico.
Para quem quer assistir a uma produção fiel, Anthropoid trata de ser o mais próximo possível aos relatos brilhantemente expostos no livro sobre a operação de Callum MacDonald ou na biografia de Peter Longerich. O problema é que ocorre um deslocamento que pega deixa o viés histórico de lado para encher o roteiro com diálogos e cenas sem nexo (como a tentativa de encaixar um romance), ocupando um tempo precioso.
Anthropoid infelizmente não mantém um bom rítimo. O polêmico ato dos nacionalistas tchecos é transmitido de forma extremamente solta, não fazendo a necessária ponte do contexto da Segunda Guerra Mundial com a importância de Heydrich dentro da SS. Por conta disso, Anthropoid provavelmente deve perder espaço com a chegada de HHhH, dirigido por Cédric Jimenez, no próximo ano.
NOTA: 6/10