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A Comunidade - Crítica do filme

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Kollektivet (A Comunidade) – 2016

O Dogma 95 foi um movimento cinematográfico avant-garde de extrema relevância para o cinema europeu contemporâneo. Dentre todas as grandes pérolas oferecidas, Festen (1998) foi o mais importante – tanto é que os fundadores o consideraram como Dogma #1 – além de ser meu favorito. Desde então, o diretor Thomas Vinterberg firmou-se como principal referência de seu país, ganhando espaço para a realização de projetos como Jagten (A Caça, nomeado ao Oscar estrangeiro de 2013). Seu novo filme, Kollektivet (A Comunidade, no Brasil) marca um retorno ao seu estilo da década de 1990, com a criação de uma forte ligação do espectador junto dos protagonistas, além das fortes discussões morais e éticas de ‘cara limpa’, sem pudor.

A famosa apresentadora de telejornal Anna (Trine Dyrholm) convencer seu marido, o acadêmico Erik (Ulrich Thomsen) que a casa recém herdada de seu falecido pai deve se tornar uma espécie de comunidade. Junto de Freja (Martha Hansen), filha do casal, eles convidam amigos e entrevistam até mesmo estranhos para participar do experimento.

Em mais uma parceria com o roteirista Tobias Lindholm, Vinterberg adapta o texto de sua peça de teatro e faz alterações significativas que busca tornar o público como um membro da comunidade, sabendo de traições e intrigas pessoais que podem ser colocadas para discussão a qualquer momento. Toda a utopia em torno deste experimento começa ser questionada assim que Erik começa um relacionamento com uma de suas alunas, afastando-se de sua esposa, que muda completamente de comportamento. A partir de toda essa incerteza, repassada também aos demais membros da comunidade, Vintenberg explora a tristeza, a dúvida e a insegurança através de excelentes cortes que deixam seu espectador cada vez mais intrigado sobre um número crescente de problemas que começam a ser empurrados pelos habitantes da comunidade devido ao aparente medo de que Erik exercer seu poder de despejo e pedir sua casa de volta.

A narrativa capta todo charme da Copenhaga nos anos 1970, com um excelente design de produção que capricha tanto nas roupas quanto nos penteado – e são esses detalhes que acabam dando mais credibilidade para a história que se desenrola. Os diálogos inteligentes e sinceros, grande assinatura de Vinterberg, desta vez tomam em dois personagens, em momentos diferentes: inicialmente, é Erik que mostra seu instinto macho ao deixar claro para sua mulher que ela não lhe interessa mais. Logo depois, o trauma de Anna faz com que ela deixe de lado seu orgulho para expor a insatisfação de dividir o teto com a mulher que conquistou seu ex-marido. As cenas que mostram as reuniões para decidir questões de importância para a vida na comunidade – seja para regular o consumo de cerveja ou para questionar as atitudes de Erik, lembram Festen, mas não têm o mesmo poder de persuasão.

Kollektivet, ainda assim, contém um bocado de passagens sem sentido, que não complementam a narrativa de maneira satisfatória, tomando um tempo de tela que poderia ser utilizado, por exemplo, para ampliar o arco secundário que envolve a descoberta sexual de Freja. A nostalgia, seja pelo período retratado ou pelas técnicas de filmagem que fizeram sucesso vinte anos atrás, exerce influência total em todo filme, que convence pelas ótimas atuações.

NOTA: 7/10

IMDb

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