Quatro anos após a morte de Janis Joplin, Howard Alk lançou um documentário em Los Angeles e San Francisco sobre a vida da cantora. Mesmo com poucos recursos, ele conseguiu imagens de arquivo inéditas com Albert Grossman, ex-empresário de Janis, e levou uma merecida nomeação ao Globo de Ouro pelo seu impecável trabalho – que mais tarde ganharia destaque no circuito cult e influenciaria vários diretores que tinham como objetivo tratar da vida de grandes músicos. Ao apresentar Janis: Little Girl Blue, a diretora Amy Berg sabia que estava entrando em um território que, até então, tinha influência direta no cinema apenas de Alk. Motivos para a realização do documentário, no entanto, não faltavam. Janis Joplin é um ícone musical, dona de uma das vozes mais poderosas de todos os tempos. A missão de Berg, portanto, consistia em trabalhar em cima do que Alk já tinha consagrado anteriormente, adicionando entrevistas e mais imagens de arquivo pouco divulgadas.
Os documentários sobre grandes ídolos da música produzidos neste novo milênio aparecem com características extremamente interessantes – e Janis: Little Girl Blue, não foge à regra. Todos buscam apoio e credibilidade em cima de candid interviews – entrevistas com parentes e amigos próximos que abordam com muita serenidade sobre os altos e baixos da carreira de uma determinada pessoa. No entanto, quando comparado com Amy – um dos melhores documentários dos últimos tempos – fica claro as diferenças de cada estilo de direção. Enquanto Asif Kapadia constrói uma elegante narrativa a partir da própria Amy – com o recurso das entrevistas sendo utilizado para reafirmar pontos que estavam sendo elencados pela cantora ou pela mídia, Berg busca um estilo mais tradicional e linear. A história da garota que não conseguiu se encaixar no cotidiano de uma pequena cidade do Texas tem pontos referenciais marcantes – mas com uma nítida falta de polimento na edição: sua má relação com seus colegas (que chegaram a dar a Janis o prêmio de homem mais feio do colégio), suas poucas amizades, seu sucesso e seus problemas com as drogas e com o álcool parecem estar deslocados, sem um grande eixo central que evidencie, por exemplo, a importância, a relevância e o legado de uma cantora que quebrou barreiras e enfrentou preconceitos de todos os tipos.
Outro grande erro foi o de não permitir ao espectador escutar – de fato – a voz de Janis. Apesar de uma boa seleção de arquivos que cobrem as principais etapas de sua carreira, como o período no Big Brother and the Holding Company e na sua controversa passagem por Woodstock, a pressa para entrar com mais entrevistas ou com alguma frase de Janis no programa de Dick Cavett compromete totalmente a continuidade, com pouco espaço para apreciar a linda e marcante voz da cantora.
Janis: Little Girl Blue tem seu mérito por trazer um olhar diferenciado do que Alk apresentou ao mundo na década de 1970, mas a surpreendente posição conservadora de Amy Berg expõe limitações claras na narrativa e na edição, tornando o resultado final no mais fraco documentário da excelente filmografia da realizadora até o presente momento.
NOTA: 6/10