Pouco antes de morrer, ao relembrar sua vida pública, Richard Nixon considerou a visita de Elvis Presley como ‘estranha, com momentos bizarros’. A icônica foto do presidente junto do Rei do Rock é, até hoje, a mais requisitada do Arquivo Nacional dos Estados Unidos. Duas personalidades tão diferentes – duas figuras de tamanha influência mundial. É justamente a partir desse encontro – impossível de ser imaginado – que Elvis & Nixon, dirigido por Liza Johnson, funciona como uma comédia de alto nível.
1970. Preocupado com seu país, Elvis Presley (Michael Shannon) decide se oferecer ao Presidente dos Estados Unidos para atuar como um agente infiltrado do Departamento de Combate às Drogas. Para ele, a guerra e a crise moral que assolava o mundo tinha influência direta na cultura das drogas – que, segundo ele, tinha apoio de mentes subversivas comunistas, visando a destruição da unidade nacional americana. Por mais absurda que essa história pode parecer, ela é real. Elvis pega um avião até Washington (ocasião na qual escreve uma famosa carta ao Presidente*) junto de seu escudeiro, Jerry Schilling (Alex Pettyfer), e vai de carro até a porta da Casa Branca, onde entrega a correspondência visando um encontro com Richard Nixon (Kevin Spacey). Ao ler o conteúdo, os assistentes Egil “Bud” Krough (Colin Hanks) e Dwight Chapin (Even Peters) pedem a aprovação do chefe de gabinete H.R. Haldeman (Tate Donovan) para realizar o encontro.
Na ocasião do encontro, Nixon ainda não havia ordenado a instalação dos grampos, que mais tarde acabaria com sua carreira política. Por conta disso, todos os diálogos são feitos a partir de memórias dos envolvidos e, claro, de uma boa dose de humor. Dois dos melhores atores dessa geração dividem a tela com uma sutileza impecável: enquanto Michael Shannon encanta como Presley, mesmo sem ter a voz parecida, Spacey rouba a cena e supera o Nixon de Anthony Hopkins, com um sotaque idêntico e com uma maquiagem sensacional.
Por conta da situação extraordinária do caso, algumas das cenas mais hilárias podem deixar o espectador na dúvida: ora, será que tudo o que foi apresentado era verdade? Como já havia investigado esse caso anteriormente – posso garantir que, até a chegada de Elvis no Salão Oval, o filme segue uma narrativa muito próxima do que nos foi transmitido por pessoas como Chapin e Halderman – inclusive com a menção de pavor deste último, que pensava que tudo era uma grande piada. Por motivos óbvios, a conversa apela para o humor – mas sem jamais desrespeitar as linhas de personalidade dos dois homens envolvidos. Elvis era um idealista; Nixon, um arrogante que sabia agradar da mesma maneira que se isolava para falar mal pelas costas.
Ano passado, na minha lista dos filmes mais aguardados de 2015, não tive dúvidas de escalar Elvis & Nixon (que teve sua estreia adiada por problemas de produção). A direção competente de Johnson leva uma história maravilhosa para historiadores, fãs de Elvis ou mesmo curiosos por conhecer um dos casos mais incríveis da política americana. Por ser uma comédia, provavelmente não terá reconhecimento nas premiações – mas bem que Spacey poderia buscar uma nomeação no Globo de Ouro.
*Devido ao grande número de procura por informações, o Arquivo Nacional dos EUA abriu uma sessão especial para a visita de Elvis. Veja aqui.
https://www.youtube.com/watch?v=o9x3Z6b0Z1g
NOTA: 8/10