Paolo e Vittorio Taviani são duas lendas do cinema italiano. Maraviglioso Boccaccio (Maravilhoso Boccaccio, no Brasil) mostra que até mesmo os grandes diretores erram, mesmo após atingir o grau máximo de maturidade intelectual.
O filme é fruto de uma adaptação livre de Decamerão, clássico de Giovanni Boccaccio. Os irmãos tratam de abraçar o contexto da Peste Negra que castigou a Europa na metade do século XIV para mostrar como dez jovens amigos fogem para o campo para evitar a morte e prendem-se nas histórias que contam. Os irmãos apresentam uma fotografia vibrante, com cores vivas que ressaltam a qualidade da fotografia. A trilha sonora acompanha os casos vendidos ao público como ‘imprevisíveis’.
Mas o longa sofre de gravíssimos problemas estruturais, muito por conta da falta de uma terceira voz para tentar dar um pouco mais de lucidez e razão aos Taviani. As várias histórias contadas pelos jovens – que tratam de amor, sexo e traição – não fazem um paralelo direto com a vida deles, muito menos com o contexto – apesar deste ser citado um par de vezes, ao menos.
Apesar de reunir um ótimo elenco, com alguns nomes de ponta do cinema italiano, a sensualidade, o erotismo e a crítica à Igreja não se fazem presentes aqui. Pelo contrário, nota-se uma passividade ímpar, como se tudo o que é mostrado no filme fosse apenas uma alegoria em torno da Peste Negra, descontextualizando o encontro dos jovens. Não! Para quem leu Decamerão, tal fato torna-se um disparate, não sendo nem mesmo possível e justa uma comparação com o filme de Pier Paolo Pasolini. Faltam elementos que ressaltam o humor negro fincado na obra original – ausente no filme. Falta vida aos Traviani, que tentam lançar uma imagem positiva através de cores carregadas e rostos definidos.
Maraviglioso Boccaccio luta para ser um filme artístico a partir de seu bom design de produção. Mas, na verdade, o mesmo torna-se relevante apenas pela assinatura dos Taviani. Infelizmente o longa não chega nem perto de outras entradas da filmografia dos irmãos, e passa por vários problemas de distribuição internacional pela restrição imposta por conta de uma produção que é grande apenas nos olhos de seus idealizadores.
NOTA: 5/10