Noam Chomsky é o maior intelectual em atividade. Sua extraordinária produção – com mais de 35 livros entre linguística e política – e suas críticas ao governo estadunidense ganharam peso e relevância na medida em que o mundo começou a comprovar os diversos crimes cometidos pelo governo federal dos EUA anunciados por Chomsky in loco. De Kennedy à Obama, todos os presidentes americanos foram alvo de escritos e palestras nas quais Chomsky visa mostrar o quão corrupto é o sistema eleitoral, gerado a partir da doce ilusão de liberdade.
Parcialmente financiado no Kickstarter, Requiem for the American Dream foca seus 70 minutos de duração para discutir sobre a desigualdade social nos Estados Unidos, ainda mais escancarada desde a crise financeira de 2008. A partir da proposta de emendar os dez princípios de riqueza e poder ao sistema político estadunidense, os diretores Peter D. Hutchison, Kelly Nyks e Jared P. Scott buscam mostrar a absurda diferença existente entre a classe trabalhadora (comumente referenciada como ‘os 99%’) dos bilionários (‘os poderosos membros do 1% que controlam a política’) para abrir campo para a crítica que Chomsky estabelece da política doméstica de seu país.
Produzido a partir de entrevistas coletadas durante quatro anos, a narrativa construída em torno de Chomsky é acessível e atraente. Com o auxílio de gráficos, tabelas e de vídeos que contextualizam falas do professor emérito do MIT o público tem acesso a uma análise contundente do cenário político dos EUA. Segundo Chomsky, após Nixon (considerado o último presidente do ‘New Deal’), o governo americano escondeu-se atrás da desregulamentação, que criou uma bola de neve e fortaleceu de forma ímpar grandes corporações. Não é de se surpreender, portanto, que os bilionários financiem campanhas – de presidenciais até municipais – para defender os interesses de suas empresas a partir da pressão que faz a ‘democracia’ ser apenas uma palavra sem força quanto defrontada da cruel realidade, que toma um rumo ainda mais impactante após a recente decisão da Suprema Corte no caso da Citizens United (2010), deixando aberto o campo para indústrias abusarem do lobby político.
Tudo isto é debatido por Chomsky em um tom sério e sereno. Por mais de três vezes, o próprio intelectual faz questão de citar que suas explicações são superficiais, dada a proposta do documentário. Requiem for the American Dream, portanto, não se insere em um longo debate acadêmico, mas consegue fazer um bom aparato introdutório sobre as complexas críticas de Chomsky ao sistema político de seu país. Com uma boa distribuição, a produção tem tudo para obter os mesmos índices de popularidade de Manufacturing Consent (1992) – o que torna atraente a ideia de difundir as ideias de Chomsky mundo afora.
* Requiem for the American Dream está disponível no iTunes e no Netflix.
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NOTA: 8/10