No Festival de Toronto do último ano, o diretor Ilya Naishuller disse que seu filme, Hardcore Henry (Hardcore: Missão Extrema, no Brasil) poderia ser considerado como uma espécie de mini-revolução. De fato, o longa rodado em perspectiva de primeira pessoa causa tamanha curiosidade e deixa a pergunta: será que essa técnica irá prosperar no cinema? Se for apenas por Hardcore Henry, não. A produção russa nada mais é do que uma tentativa de emular um jogo de vídeo game nas telas do cinema, com um roteiro cadenciado em níveis, com um grande vilão e com uma grande surpresa final que não convence nem um pouco.
Mudanças no cinema sempre são carregadas de expectativas. Quando The Jazz Singer foi lançado, em 1927, o público ficou dividido entre aqueles que se maravilharam e aprovaram a introdução do som e aqueles – hoje chamados de puristas da década de 1920 – que diziam que o cinema deveria se manter mudo. Anos atrás, muito se discutiu se o cinema estava pronto para absorver mais filmes como Avatar. O que quero dizer é que sempre irá existir uma divisão muito grande de opiniões quando o tema é polêmico, ainda mais no cinema, com abrangência mundial.
O personagem que dá nome ao filme – interpretado por uma equipe especial de dublês – é um super soldado que acorda em uma nave que sobrevoa Moscou. Junto de sua mulher, Estelle (Haley Bennett) ele busca escapar do malvado telecinético Akan (Danila Kozlovsky). Para compreender o motivo de estar ali e o motivo de ter poderes especiais, ele conta com a ajuda de vários Jimmys (Sharlto Copley), que mostra o caminho para o caos na cidade, com explosões, tiroteios, etc.
Se Hardcore Henry utilizasse o POV (point of view, ponto de vista) de maneira mais profunda – isto é, propondo uma construção sólida de relações entre personagens e apostando na integração com o público – o resultado poderia ser bem mais impactante. A ação desenfreada aproxima-se da série GTA, sem grandes consequências para alguém que pode tudo num mundo aparentemente passivo. O corte entre as cenas é feito, como citei anteriormente, para dar a impressão de uma mudança de fase, onde o personagem recompõe toda sua vida e visa apenas matar os vilões. As cenas de tiroteio mesclam passagens clássicas que buscam homenagear games consagrados como Call of Duty e Battlefield, com um ou dois combos eficazes que se tornam ainda mais impactantes por estarem em primeira pessoa (como no caso da foto acima).
Hardcore Henry certamente será lembrado pela primeira grande experiência de POV nas telas, mas talvez com uma modesta nota de rodapé, e não com uma longa página na história da indústria, como Naishuller chegou a pensar. A aproximação com o público gamer é nítida, com um marketing em cima da faixa etária alvo dos produtores (que distribuíram HQ’s e se juntaram a gigantesca comunidade do jogo Payday 2). Como filme, no entanto, peca gravemente ao propor uma história que abusa da intensidade e transborda uma euforia que contagia a poucos pela falta de nexo.
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NOTA: 4/10