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Er ist wieder da (Ele está de Volta) – 2015

Adolf Hitler faz parte da página negra da história da Alemanha. Fazer comédia com ele significa correr riscos. Em 2012, Timur Vermes publicou o livro Er ist wieder – que trata sobre o retorno de Hitler ao seu país. As páginas muito bem escritas tornaram a novela um bestseller, com traduções para várias línguas – e que acaba de receber uma versão cinematográfica, dirigida por David Wnendt.

A premissa básica é simples: Adolf Hitler inexplicavelmente ressurge no terreno em que abrigava o Führerbunker. Sem se lembrar de nada desde o dia de sua morte, ele busca compreender os avanços tecnológicos e também as mudanças sociais ocorridas na Alemanha. Fazer a adaptação de um livro que fez tanto sucesso recente é uma tarefa muito difícil. O texto de Vermes tem uma fluidez invejável, e ele consegue fazer uma sátira histórica de alto nível – tanto é que, em menos de um mês após chegar às, Er ist wieder da já tinha aclamação da crítica literária alemã. No filme, o caso é bem mais complicado. Interpretado por Oliver Masucci, o Adolf Hitler do cinema está bem menos irritado e velho do que o Hitler de Bruno Ganz em Der Untergang. Este aspecto jovial é fundamental para inserir a imagem do ditador perante ao público, já que ele ganha um programa de humor na televisão alemã tão logo é ‘encontrado’ por um jornalista (Fabian Busch) atrás de uma grande história. Como é de se esperar, inicialmente os alemães dividem-se na receptividade, uma vez que este Hitler era visto como um comediante atuando conforme o método.

As piadas do livro são passadas para o cinema sem a mesma força. Como exemplo, tão logo Hitler descobre jornais e pessoas de origem turca caminhando por Berlim, ele pensa que Karl Dönitz (apontado como seu sucessor no testamento político escrito antes de seu suicídio) teve sucesso ao persuadir os turcos a entrar na guerra contra os russos. No livro, tal piada funciona perfeitamente, já que ela está toda contextualizada. No filme, o poder é bem menor, já que não existe a mínima abertura para discussão dos problemas que levaram a queda do Terceiro Reich.

A rodagem do filme mistura algumas técnicas típicas do mockumentary, como colocar Masucci vestido com o traje do Führer no centro de algumas cidades alemãs, despertando reações de ódio e de um ininteligível amor e afeição, comprovado a partir de selfies e saudações nazistas. Pelo menos duas cenas do longa podem ser comparadas com Borat, já que existe o mesmo impacto de estranheza de pedestres diante de uma situação inusitada. A edição final apresenta pequenos deslizes, talvez pela falta de recursos. O grande erro é que, enquanto o livro Er ist wieder da é extremamente original e ambicioso, a versão do cinema tenta pegar carona em frases de efeito prontas, sem se preocupar com a construção das mesmas. Não basta Hitler se encontrar com o Partido Nacional-Democrático, deve-se criar um clima que tente se assemelhar minimamente ao apresentado no livro.

Er ist wieder da, ainda assim, tem poder para provocar seu espectador e pode ser encaixado perfeitamente na crise dos refugiados que assola o país, o que, em parte, explica o novo avanço da extrema direita e uma série de preceitos que o Hitler de Vermes e Wnendt resgata na Alemanha do século XXI.

* Ele está de Volta está disponível no Netflix

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NOTA: 5/10

IMDb

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