Uma idosa rabugenta, sem nenhum amigo, com péssima higiene e que abusa constantemente da boa vontade dos outros apenas pela sua idade. Essa é a senhora Shepherd – The Lady in the Van (A Senhora da Van, no Brasil), uma folclórica moradora de rua do distrito de Camdem Town, no norte de Londres. O filme dirigido por Nicholas Hytner conta a história da aproximação do escritor Alan Bennett (Alex Jennings) da mulher que ficou estacionada em sua garagem por quinze anos.
Nem tudo, no entanto, é real. Um dos grandes desafios propostos nesta produção é saber diferenciar a ficção dos fatos, já que somos avisados logo no início de que ‘a maioria das coisas explícitas tomou lugar’. A deliciosa comédia é uma adaptação da novela homônima escrita por Bennett em 1999 – que logo se tornou um bestseller no Reino Unido e virou uma premiada peça de teatro. Maggie Smith entrega uma atuação de gala ao interpretar a protagonista novamente – já que também esteve envolvida na produção teatral – com excelentes cenas de um humor tradicionalmente britânico. Neste sentido, é uma vergonha imensa observar que ela tenha sido esnobada do Oscar de melhor atriz para dar lugar a Jennifer Lawrence com o fraco Joy.
A estrutura do filme é bem peculiar. Ao escrever o livro, Bennett nos conta que “o escritor é duplo”. Para ele, uma parte vivia normalmente enquanto outra ficava a cargo de seu vício, a escrita. É exatamente essa dualidade que observamos no personagem interpretado por Alex Jennings, quando nos deparamos com o Bennet real e o Bennet imaginário – unidos sob o mesmo corpo, mas com abordagens diferentes para o mesmo problema. O drama pessoal da moradora de rua pode ser analisado desde a primeira cena – solta do restante do filme e apenas explicada nos minutos finais – onde ela aparece fugindo da polícia após um acidente automobilístico. Seus traumas levaram a senhora ao manicômio, onde não permaneceu muito tempo. A rua virou sua casa – e, aos poucos, ela entrou na rotina de cada morador de Camdem.
Infelizmente Hytner tomou a errada decisão de fazer graça em sua conclusão. A história é boa o suficiente para ter um caráter irreverente, mas parece que o diretor fica na responsabilidade de seguir a risca o roteiro de Bennett e comprar a ideia de contar piadas logo após a cena mais dramática da história, que rompia claramente com o padrão até então imposto. Mesmo com outros pequenos erros de produção (como a notável ajuda de dublês em algumas cenas, algo que poderia ser resolvido com uma edição mais eficaz), The Lady in the Van tem um apurado senso de humor graças a excelente Maggie Smith.
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NOTA: 7/10