Destaque das produções cristãs de 2016, Risen (Ressureição, no Brasil) apresenta um pano de fundo com um potencial imenso, mas que não é o suficiente para salvar o filme dos inúmeros clichês que rondam o gênero.
Pôncio Pilatos (Peter Firth) dá a ordem para Clavius (Joseph Fiennes) e Lucius (Tom Felton) supervisionarem a crucificação de um nazareno que clamava ser rei. Após três dias, no entanto, o corpo some, gerando um grande problema com as autoridades judaicas da região, que exigiam o cadáver para provar que a ressurreição proclamada por ele em vida seria apenas uma falácia. Clavius recebe um prazo de 48 horas para voltar com respostas, mas são as dúvidas que acabam rondando sua cabeça e sua fé.
As adaptações bruscas de Hollywood estão cada vez mais exageradas e desenfreadas. Os produtores defendem sua visão de misturar povos, como se todos tivessem os mesmos costumes a partir da visão globalizada, em nome da fé, citando que o público está cada vez mais interessado em filmes de fácil compreensão. Neste tópico, dois registros merecem ser feitos.
O primeiro diz respeito a distribuição internacional do longa: após o exemplo polêmico de The Passion of the Christ, o mercado estadunidense não se mostra disposto a correr grandes riscos em filmes de religião – especialmente em torno da figura de Jesus. É verdade que o nicho de pessoas que vão ao cinema assistir é diferenciado, e apresenta uma crescente nos últimos anos, vide o sucesso brasileiro de Os Dez Mandamentos. Por conta disso, é muito mais fácil cometer grosseiros erros históricos do que criar problemas com entidades com grande peso político por conta de pesquisas. O outro registro diz justamente sobre a tentativa de vender uma imagem de filme ‘histórico’. Em Risen, nota-se uma absurda construção em torno de um diálogo que tenta usar expressões do inglês arcaico, além de outras tantas modificações na estrutura das orações para dar ao espectador a impressão de se tratar de um filme antigo.
Estes dois levantamentos chamam a atenção pela falta de padronização, já que essas questões entram em conflito direto. Risen também abusa dos estereótipos: apesar de Jesus não ter olhos azuis, o destaque para os músculos de Joseph Fiennes destoam de tudo o que o filme busca pregar. O roteiro, por sua vez, apresenta grandes buracos na historicidade dos personagens tratados: como são escassas as passagens na Bíblia sobre a figura de Pilatos, por exemplo, pelo menos o filme poderia buscar certo tipo de amparo em escritas da época, como os livros de Fílon de Alexandria. Uma breve comparação da personalidade mostra o quanto o filme do diretor Kevin Reynolds buscou formar heróis e vilões sem qualquer preocupação com uma discussão séria com acadêmicos. A ressurreição que dá título ao filme é apenas uma alegoria para buscar tratar de uma produção vazia, sem rumo, e com um protagonista muito fraco.
NOTA: 4/10