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Truth (Conspiração e Poder) – 2015

O outro lado do jornalismo. Ou melhor, como não fazer jornalismo. Se Spotlight mostrou como uma equipe unida em torno de um objetivo claro consegue montar uma reportagem de extrema relevância a partir de muita investigação, a história de Truth (Conspiração e Poder, no Brasil) trata justamente do oposto, analisando como uma série de desencontros (e, talvez, interesses políticos) causaram uma das mais discutidas reportagens da história recente dos Estados Unidos (referido na literatura acadêmica como Memogate, ou Rathergate).

Antes de entrar na história em si, considero necessária uma explicação sobre alguns tópicos que podem ser desconhecidos do grande público de língua portuguesa. Primeiro: Dan Rather é, sem dúvida alguma, um dos maiores âncoras da história da televisão americana. Seu trabalho na CBS é reverenciado nas universidades até hoje, afinal, não é qualquer pessoa que passa 24 anos na frente do principal telejornal de uma das maiores emissoras do mundo. Seu estilo único, misturando jargões com uma postura séria, deu a ele um poder invejável na CBS News. Segundo: o grande estopim da polêmica aconteceu em um programa ’60 minutes’, que é especializado em matérias de grande impacto (entrevistas especiais, investigações), e é conhecido pela credibilidade junto do público estadunidense.

Em 2004, a CBS colocou no ar uma matéria investigando o registro do então presidente George W. Bush na Guarda Nacional dos EUA. Na época de eleição presidencial, enquanto John Kerry era atacado por conta de suas ações no Vietnã, Bush ‘conseguiu’ cumprir seu serviço obrigatório em solo americano. A discussão sobre o passado do então presidente era urgente. Mapes (Cate Blanchett) e sua esquipe de pesquisadores (interpretados por Dennis Quaid, Topher Grace e Elisabeth Moss), conseguem colocar as mãos em documentos privados do Tenente Coronel Jerry B Killian, que criticava a ausência de Bush no período entre 1972-3. Pressionados para fazer uma matéria em uma semana sobre este caso, a equipe do 60 Minutes e seu âncora, Dan Rather (Robert Redfor) correm para esclarecer os pontos abertos.

O primeiro trabalho de James Vanderbilt como diretor tem como destaque o laço entre Redford e Blanchett – extremamente interessante e sólido. Eles conseguem dar vida a dois personagens complexos, cheios de questionamentos internos – e com uma reputação a defender. Com um roteiro bastante ágil e direto, Truth reconstrói o ambiente na redação da CBS desde o primeiro dia da investigação de forma clara e precisa.

Truth recebeu inúmeras críticas nos Estados Unidos pelo fato de ser um filme político, de contar a história apenas pelo viés de Mary Mapes. Aqui,algumas considerações: 1) o filme, de fato, tem como base o livro Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power, que se tornou alvo de ataques pelos apoiadores de Bush e de aplausos dos democratas. A decisão de focar na história de Mary é pessoal, e acredito que tenha sido a correta. Isto ocorre pelo fato de que, tão logo os créditos rolam, uma grande questão fica em aberto: por qual motivo a pergunta lançada no programa, sobre o serviço militar de Bush, foi deixada de lado e apenas o lado ruim e vexatório foi abordado?

Sim, Dan e Mary cometeram o erro grotesco de terem autorizado a publicação a matéria sem a verificação completa sobre os documentos (caso o leitor queira comparar o utilizado na entrevista com uma digitação padrão do Word 2004, por favor, clique aqui). Mas foram calados por sua emissora, com poucas chances de defesa. Truth simplifica boa parte dos eventos após a transmissão do 60 Minutes que acarretou na demissão de Mary e de sua equipe, além de afastar Rather de seu telejornal. É compreensível, dada a complexidade do caso. Mas a grande vitória é reascender a discussão em torno do papel da imprensa, e, especialmente, sobre os métodos usados no jornalismo para levar a notícia ao público.

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NOTA: 8/10

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