Recentemente, uma boa geração de documentaristas foi formada após o sucesso de Capturing the Friedmans, tentando colocar o foco de suas análises em famílias normais com problemas cotidianos que tomam proporções gigantescas e/ou analisar casos isolados de famílias que fogem ao padrão do american way of life. The Wolfpack (Os Irmãos Lobo, no Brasil) busca apoio neste tipo de produção para mostrar a crônica de um grupo de irmãos que viveram boa parte de suas vidas completamente isolados do mundo. Seu único contato com a realidade era através dos filmes – e estes serviram de base para moldar suas concepções sobre relações sociais e o mundo em geral.
Projetar a realidade da família Angulo é um desafio – que não soube ser bem explorado pela estreante Crystal Moselle, talvez pela falta de experiência. A introdução é extremamente fraca. O espectador não sabe o motivo, por exemplo, de estar mergulhando naquela família. A história do encontro dela com os irmãos Angulo é interessante: enquanto passeava por Nova York, eles faziam uma de suas primeiras caminhadas conjuntas. Interessada pelo estilo ‘diferente’ e pelos rostos de entusiasmo, ela puxou papo e daí veio a ideia para um documentário. Esta base já seria aceitável, mas nada disso é mencionado. Tanto a mãe quanto o pai dos irmãos são apresentados de forma superficial, como se tivessem papel secundário na história do isolamento.
The Wolfpack deixa dezenas de questões em aberto para focar em tópicos isolados. Ao entrar no dia a dia da família, existem cenas forçadas, e Moselle joga goela abaixo o que eles dizem. Seria interessante, por exemplo, saber da opinião dos vizinhos, de outros familiares. Nada disso sequer é cogitado. A diretora fechou tanto seu objeto que acabou sofrendo da cegueira comum aos documentaristas, que é deixar de lado o contexto e a estrutura para focar no que eles consideram ser real e relevante.
Logo quando soube deste documentário, pensei que o foco seria nos filmes, uma opção lógica. Mas enganei-me. Eles também são alvos secundários, que dão base pro roteiro mas não chegam a ser determinante, pois Moselle está mais interessada em saber de como eles enxergavam sua prisão forçada. A lista de filmes dos jovens – Poderoso Chefão, JFK, Tarantino – e a maturidade perante a clássicos como Casablanca e Cidadão Kane dariam material para uma boa exploração. Novamente, ficam mais perguntas do que respostas.
Por isso, o material de The Wolfpack e o seu potencial são desperdiçados perante o projeto pessoal de Moselle. Ela bem que poderia pedir ajuda a outros documentaristas, ou mesmo estudar a fundo o gênero, que salvaria de uma porção de falhas e buracos de roteiro.
NOTA: 5/10