Poucos sabem, mas James Cameron iniciou sua carreira como diretor dirigindo Piranha pt. II – um fracasso em todos os sentidos possíveis. Os tiros certeiros com Alien e The Terminator apagaram esta mancha e colocaram Cameron como responsável por um dos maiores orçamentos da década de 1980 (os números variam, mas 70 milhões de dólares parece uma estimativa correta, contando os altos custos de distribuição e propaganda). The Abyss (O Segredo do Abismo, no Brasil) peca por tentar tirar um pouco de cada gênero que fazia sucesso em seu tempo: em resumo, temos um thriller de submarinos, uma história de amor e uma bizarra mistura de ficção e fantasia carregada do pior tipo de clichê possível. A imagem de JC distanciou-se de Piranha após seus sucessos, mas o fato é o diretor cometeu os mesmos erros de sua estreia.
The Abyss inicia instigando a curiosidade de seu espectador. Em período de turbulência com a União Soviética, o submarino nuclear USS Montana encontra problemas inesperados e acaba afundando misteriosamente nas Ilhas Cayman. Acompanhamos os últimos momentos da equipe tentando conter a água ao mesmo tempo que uma luz rosa toma conta da tela. Antes de que seus inimigos cheguem ao local da queda, os americanos decidem pedir ajuda a uma companhia privada de petróleo que atua na região. A missão não é vista com bons olhos pelo capitão Bud Brigman (Ed Harris), mas o prêmio em dinheiro convence seus comandados. Ele se reúne a uma equipe de SEALS liderada por Coffey (Michael Biehn), e, junto de Lindsey (Mary Elizabeth Mastrantonio), buscam retirar o conteúdo secreto do submarino. A partir daí, vários problemas atingem a missão, ao mesmo tempo que Bud e Lindsey tentam superar seus problemas matrimoniais.
Quando comparado a obra prima Close Encounters of the Third Kind, nota-se o quão deficiente é a película de Cameron. Não existe um foco definido em um objeto específico, e mesmo a misteriosa luz rosa aos poucos cai na rotina, e não é surpresa nem mesmo para os personagens do longa. Existe uma dolorosa transição de gênero – e, em determinado ponto, até mesmo uma teoria da conspiração entra em cena. Toda a tensão gerada no encontro final do filme de Spielberg é moldada com um cuidado impressionante, enquanto em The Abyss tudo não passa de uma alegoria totalmente sem fundamento.
Justiça seja feita, a versão do cinema de The Abyss foi cortada cruelmente pela Fox. Conrad Buff, que mais tarde ganharia espaço e notoriedade com Titanic, pouco podia fazer tendo em conta as exigências do estúdio de entregar uma versão de no máximo duas horas e vinte minutos (trinta a menos do que a versão do diretor, que contém explicações válidas para inúmeras questões que ficam boiando durante a exibição).
NOTA: 4/10