Vencedor do prêmio de melhor diretor em Cannes, Nie yin niang (The Assassin, no mercado mundial) também foi o filme com recorde de saídas de espectadores da sala – fato também observado em seu país natal e no Festival de Toronto, que teve pelo menos trinta desistências, número muito alto. O problema em torno desta produção gira na visão de cinema de seu diretor e da proposta de filmes desta época. Quem achava que iria assistir um filme de artes marciais se enganou por completo. The Assassin tem um toque refinado de drama, e as cenas de lutas são precisamente posicionadas para dar emoção a uma história de toque extremamente lento – o que não é negativo, muito pelo contrário, mas que é o grande motivo de impaciência do público.
China, século IX: removida dos braços de seus pais aos dez anos de idade, Nie Yinniang (Shu Qi) é uma temida assassina. Seu próximo alvo, Tian Ji’an (Chang Chen), é o governador da problemática província de Weibo. Se o seu sentimento de ‘profissionalismo’ pede para cumprir a tarefa rapidamente, Weibo é justamente sua terra natal, e o governador é o homem em que ela foi prometida em casamento anos antes. A partir disto, um dilema: seguir seu coração ou seu instinto assassino?
A angústia pelo fato do filme não demonstrar progressão – pelo menos na primeira hora de exibição – é recompensada com tomadas exuberantes de paisagens. Isto não é novidade para quem conhece o diretor Hsiao-Hsien Hou e seu peculiar estilo premiado mundialmente nas últimas três décadas. Não passa pela cabeça de Hou tornar suas películas comerciais – no sentido do lucro em troca de cenas eye-candy – uma vez que seu principal objetivo é recompensar o atento espectador com a costura de uma história bem moldada. Os poucos cortes, a câmara distante e a posição minimalista – todas marcas do diretor, chamam a atenção para a perfeição técnica.
Em qualquer outro gênero, The Assassin seria merecidamente aplaudido de pé, mas cabe lembrar que estamos falando de um filme que, querendo ou não, foi construído em cima de uma tradicional conto, envolvida diretamente com as artes marciais. Por isto, falta de conexão do roteiro com a beleza ímpar das tomadas do premiado diretor de fotografia Mark Lee Ping Bin e com sutileza de Hsiao-Hsien Hou torna The Assassin um poema sobre artes marciais, com poucos diálogos e poucas lutas. A opção por explorar detalhadamente uma história com várias arestas, ao mesmo tempo que prende o público que compra a ideia da produção desde o primeiro minuto, deixa de lado tantos outros, muito por conta da complexidade gerada em torno de algo teoricamente simples.
Candidato de Taiwan ao Oscar, The Assassin é a principal aposta do cinema asiático para a maior premiação do cinema mundial. Resta saber se a Academia receberá de braços abertos esta produção.
NOTA: 6/10