Os Julgamentos de Nuremberg mostraram ao mundo os crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas. A condenação de nomes como Alfred Jodl, Hermann Göring e Joachim von Ribbentrop sem dúvida alguma foi um marco na história do século XX. Ainda no final da década de 1940, doze julgamentos secundários condenaram médicos, generais e juristas. Ao mesmo tempo que Hannah Arendt escrevia sobre a banalidade do mal encarnada em Adolf Eichmann, na cidade de Frankfurt era organizado o processo de Auschwitz – buscando condenar os principais nazistas envolvidos no campo de extermínio. É nesse contexto, misturando realidade e ficção que Im Labyrinth des Schweigens (Labirinto de Mentiras, no Brasil) constrói seu campo.
A abertura do filme é definitiva para entender seu objetivo. Atrás de uma cerca de ferro, um simpático professor de uma escola oferece fogo para ascender o cigarro de um pedestre que passava na rua. A reação de indignação apresenta claramente o traumático encontro de um guarda do campo de concentração com um dos confinados no regime nazista. A mensagem é clara: após a guerra, ninguém mais queria ligação com Hitler, e a nação alemã procurava cicatrizar suas feridas o mais rápido possível. A história principal conta o caso do jovem Johann Radmann (Alexander Fehling), personagem fictício baseado em dois promotores de Frankfurt, que deixa de lado seus trabalhos com multas de trânsito para comandar a força tarefa de Frankfurt que tinha como objetivo reconhecer antigos nazistas que trabalharam em Auschwitz e formalizar o processo contra eles. Enquanto a cidade não aprova o fato, seu chefe, Walter Friedberg (Robert Buehler), acreditava que seria impossível conseguir um julgamento justo, já que para levar todos a prisão seria necessário provas e testemunhas de assassinatos no campo de concentração. Das oito mil pessoas que trabalharam em Auschwitz, vinte e duas foram consideradas culpadas por crimes contra a humanidade no final do julgamento, em 1965.
No entanto, o filme apresenta lacunas profundas, muito pela visível falta de experiência do diretor italiano Giulio Ricciarelli. O público apenas toma conhecimento do pré-julgamento de Frankfurt – o que é decepcionante, já que não se tem a dimensão exata de que pela primeira vez na história uma nação derrotada na guerra julgava seus próprios cidadãos por crimes cometidos ao longo de um conflito. Em determinados momentos, a história parece buscar em Johann uma saída para um herói de fato, o que não é razoável neste caso. A tensão em torno de Josef Mengele, principal antagonista, é exagerada e a trama secundária, que envolve o caso amoroso do protagonista, é mal articulada.
Candidato da Alemanha ao Oscar de filme estrangeiro, o filme consegue despertar boas discussões. Mesmo com suas falhas, Im Labyrinth des Schweigens é uma boa adição para se trabalhar com a relação de história e memoria, juntando-se com o bom Das schreckliche Mädchen (Uma Cidade Sem Passado).
NOTA: 7/10