Por si só, o Rap já é polêmico. Hollywood sempre tentou correr atrás da imensa legião de fãs deste gênero: Eminem, 50 Cent e B.I.G já tiveram suas histórias contadas na tela do cinema, mas nenhum deste filmes chamou a atenção, tanto da mídia quanto do público. Straight Outta Compton – uma das maiores surpresas do ano – muda completamente este panorama. Ao contar as origens de um dos grupos mais populares da história do Rap, o diretor F. Gary Gray contextualiza como poucos a transição da década de 1980 para os anos 90, com a ascensão do explosivo N.W.A. (Niggas With Attitude) – responsável pelas carreiras solo de Dr. Dre e Ice Cube – que participaram como produtores do filme ao lado da viúva de Eazy E. Ao contrário do que se possa imaginar, no entanto, Straight Outta Compton não é um filme que ressalta a vaidade pessoal das pessoas envolvidas. Muito pelo contrário, ele busca ressaltar problemas pessoais e condutas erradas que arrumaram para o N.W.A diversos problemas – seja com a polícia ou com as gravadoras.
A tríade do Rap é bem representada logo no começo do filme: Eazy-E (Jason Mitchell) é um jovem com graves distúrbios comportamentais. Com uma cabeça para negócios, ele não tem a mínima dúvida ao usar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas para iniciar seu grupo musical. Nesse sentido, Dr. Dre (Corey Hawkings), que passa por vários problemas familiares, dedica-se dia e noite à música, enquanto Ice Cube (O’Shea J. Jr, seu filho na vida real) inspira-se nas dificuldades cotidianas de Compton para protestar contra a desigualdade social, contra o racismo e contra o abuso da polícia – o que eles chamam de ‘reality rap’ – uma mistura de jornalismo com opinião.
Junto de seu diretor de fotografia, Matthew Libatique, Gray conseguiu recriar com incrível detalhe a cidade de Los Angeles. No caso dos distúrbios de 1992, por exemplo, nota-se o cuidado para explicar ao espectador o motivo que levou milhares de pessoas a protestar nas ruas. Nesse sentido, a ambientação – chave do sucesso deste filme – é também o maior trunfo do roteiro, já que quem não tem um profundo conhecimento sobre o N.W.A também pode desfrutar do filme, muito por conta do excesso de detalhes e informações. É claro que histórias paralelas como a de Suge Knight apenas podem ser entendidas com um pouco de conhecimento prévio, mas isso não atinge – em momento algum – o andamento do filme.
A trilha sonora inclui clássicos como a música que dá título ao filme e recria a polêmica execução de Fuck Tha Police em um show de Los Angeles. Como poucos, Straight Outta Compton é uma aula de história e entra de cabeça na análise de como legisladores e até mesmo a polícia não consideravam o Rap como um estilo de música ou mesmo um produto da cultura de um grupo social – e fizeram esforço para calar essas vozes o mais rápido possível. No entanto, a briga pela liberdade de expressão, símbolo do N.W.A e retratada aqui com bastante fidelidade.
NOTA: 7/10