A excelente atuação de Rosamund Pike em Gone Girl deixou os fãs de cinema atentos para seu próximo passo nas telas. Por conta do que envolve Return to Sender, será impossível fazer qualquer análise sem mencionar o longa de David Fincher. De antemão, digo que existe um recurso de roteiro notável no desenrolar deste filme. Para quem ainda não assistiu, recomendo sem sombra de dúvidas buscar esse precioso filme B o quanto antes. Minha análise abordará o grande plot twist que é meticulosamente construído aqui.
Miranda Wells (Pike) é uma enfermeira cheia de expectativas para se mudar para sua nova casa. Junto com os ares da renovação, ela busca um novo amor. Por conta disso, ela aceita a proposta de um encontro as cegas Kevin. No dia do fatídico encontro, um homem bate na porta de Miranda muito antes do combinado. Ela pensa ser Kevin, mas na realidade William (Shiloh Fernandez) é um estuprador que já observava a moça e aproveitou para entrar em sua casa após a confusão dela. Além de cometer o crime, ele espanca Miranda, que passa a carregar efeitos colaterais do encontro, como uma súbita tremedeira em suas mãos. Após a polícia conseguir prender William, que é condenado a dez anos de prisão, Miranda passa a enviar cartas e se mostrar interessada em manter uma amizade com o rapaz.
E é justamente nesta amizade um tanto quanto questionável que reside a maior surpresa do filme! É interessante observar como um roteiro bem polido nos leva a criar conclusões prévias que despertam os mais variados sentimentos. Confesso que por alguns minutos cai na armadilha do diretor Fouad Mikati e de sua equipe de roteiristas (todos com pouca experiência, diga-se de passagem). É óbvio que nenhuma pessoa sã vai se apaixonar pelo seu estuprador, mas, pelo que observei, a delicadeza com que Pike atua deixa a impressão de que sua personagem sofre de algum tipo de estado psicológico que lembra a Síndrome de Estocolmo.
Rosamund Pike, por sinal, usa das mesmas técnicas de Gone Girl em várias ocasiões: com cabelo comprido, ela aparenta ser uma jovem de 24 anos, e seu corte mais curto com menos maquiagem dão a perfeita impressão do passar do tempo (uma década, neste caso). O plot twist só funciona pelo fato dele ser feito em conjunto com outras histórias paralelas, como a relação de Miranda com seu pai – que não é afetada por um segundo sequer – e de seu comportamento no hospital em que trabalhava. Quando William sai da prisão, a dupla personalidade da protagonista entra em cena.
Return to Sender é um filme de baixo orçamento que surpreende pela trama bem orquestrada. Assim como em Gone Girl, o espectador deixa a exibição com várias dúvidas na cabeça – todas, é claro, acompanhadas do angelical olhar de Pike.
NOTA: 8/10