Na época de premiações do cinema estadunidense, no começo deste ano, de todos os longas indicados entre o Oscar e o Independent Spirit Awards apenas um não estava disponível aos críticos. E ele era justamente Kumiko, the Treasure Hunter (Kumiko, a Caçadora de Tesouros, no Brasil), um drama montado a partir da mais famosa lenda urbana japonesa da última década. Apesar de ser membro da Film Independent, não consegui o screener para avaliar este filme – o consegui apenas agora com o lançamento mundial da versão em Blu Ray.
O roteiro foi baseado na lenda que envolve a morte de Takako Konishi, em novembro de 2001. Neste filme ela ganhou o nome de Kumiko e é interpretada pela atriz Rinko Kikuchi. Conta-se que Takako ficou surpreendida após assistir ao filme Fargo, dos irmãos Coen, e queria visitar a cidade a todo custo para encontrar a maleta que Steve Buscemi enterrou no gelo. Ela então abandona seu emprego no Japão e tenta a sorte nos Estados Unidos.
Obviamente – por se tratar de uma lenda urbana – devemos entender as várias adaptações ocorridas na transformação de Takako para Kumiko. A primeira delas diz respeito a própria história de Fargo, que foi criada por uma jornalista americana após saber da história peculiar da japonesa, que prefiro não tratar aqui para não dar spoilers essenciais para a a sequência do longa.A história é tão absurda e cômica que lembra vagamente Nebraska, onde o protagonista esbanjava ingenuidade ao achar que realmente iria ganhar um milhão de dólares. Aqui, Kumiko mantém a mesma confiança – ela acredita cegamente que Fargo ainda está coberta de gelo e que o cone deixado pelo personagem daquele filme para identificar a maleta com milhares de dólares ainda estava cirurgicamente posicionado de frente a uma grade no meio do nada. Com isso, a participação de Alexander Payne como produtor executivo não pode deixar de ser mencionada.
Poucas vezes vi um filme deste início de novo milênio tratar com tanta propriedade o real e o imaginário como apresentado na cena final de Kumiko, the Treasure Hunter. Além de fechar a forma mais adequada possível, a trilha sonora suave nos conduz a uma grande reflexão a medida que os créditos começam a rolar. Com direção de David Zellner, Kumiko consegue prender a atenção do público – que sabe de antemão o destino da jovem mas observa com curiosidade suas motivações. Uma excelente produção do cinema independente americano, que merece todo o sucesso possível.
NOTA: 7/10