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Red Army – 2014

Quando se fala em Hockey, geralmente o primeiro pensamento que nos vêm a cabeça é a luxuosa e milionária NHL. Não é para menos: o domínio canadense e americano é visível, apesar da força histórica da Suécia. Ao olhar para a história, a esquadra da União Soviética no tempo da Guerra Fria foi considerada a seleção mais poderosa de todos os tempos. No entanto, Hollywood fez questão de deturpar esta imagem para apresentar apenas o lado que bem lhe agradava. Dirigido e escrito por Gabe Polsky, Red Army é um documentário que visa fazer justiça a uma época dourada do esporte no gelo.

É verdade que a vitória da jovem seleção americana sobre o poderoso time socialista chocou o mundo do esporte em 1980. Não é para menos que o episódio foi chamado de “O Milagre no Gelo”, base para um popular filme da Disney lançado em 2004. Na disputa pela hegemonia, nem os EUA nem a União Soviética aceitaria colocar seu rival ideológico como melhor em algum esporte e/ou atividade, já que isto poderia demonstrar um sinal de fraqueza. Justiça seja feita, os soviéticos sempre foram os melhores no Hockey. Com entrevistas com os principais jogadores do período, o objetivo é entender não apenas o duro treinamento e as disputas internas do time considerado perfeito pela mídia especializada, mas também as diferenças do modelo de jogo dos soviéticos em comparação com americanos e canadenses.

O documentário tem um início bem estruturado, já que visa discutir sobre como esta hegemonia soviética foi construída. Para tanto, a figura de Anatoli Tarasov é essencial, já que todo o chamado “modelo russo” de jogo  foi implementado com ele – seus manuais são utilizados até os dias atuais. A derrota em 1980 não chega a ser destaque, até pelo fato da URSS ganhar as medalhas de ouro nos jogos de 1984 e 1988, fora o ouro como “equipe unificada” em 1992 e os vários torneios disputados contra canadenses e americanos neste período. Além de conhecer cada um dos jogadores da máquina soviética da década de 1980, também discute-se a polêmica personalidade de Viktor Tikhonov, técnico da equipe que era odiado pelos jogadores por conta de sua rigidez.

O único defeito de Red Army está no fato de querer ser o pai da história a qualquer custo. Isto pode ser observado na maneira como Gabe construiu sua narrativa. Em um determinado caso que trago para análise, por vinte minutos o alvo de discussão é a abertura da URSS no final da década de 1980 e a possível saída de Viacheslav Fetisov (um dos maiores jogadores de todos os tempos que queria deixar seu país e jogar nos EUA). O caso é apresentado como único pelo fato de Fetisov desafiar as autoridades, e o espectador fica com a clara impressão de que seria impossível um russo jogar nos EUA neste período, o que, apesar de ser verdade. é colocado de forma dramática, não seguindo a linha dos entrevistados. Sim, apenas oito jogadores foram liberados na era da glasnost (Fetisov foi um deles), mas isto era extremamente comum em qualquer atividade por conta das duras políticas de emigração dos países da Cortina de Ferro. Neste caso, a visão americana dos fatos passa por cima até mesmo do que era tratado pelos próprios russos.

Red Army não é um documentário de fácil compreensão, pois é voltado especialmente para os fãs do esporte. Entretanto, é possível que uma pessoa que nada intenda de Hockey considere relevantes as entrevistas sobre as diferenças do modelo capitalista e do modelo socialista – podendo partir para uma análise política do caso.

NOTA: 8/10

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