Fehér isten (Deus Branco, no Brasil) traz uma nova dimensão a relação homem – cão. Após o sucesso de Marley and Me (2008) e Hachi (2009), Hollywood passou a apostar ainda mais no relacionamento mais próximo do humano com seu melhor amigo para expandir suas histórias, com um número cada vez maior de filmes dirigidos apenas a esta análise. A produção húngara vencedora do Un certain regard do ano passado, destaca-se pelos dois momentos do roteiro, misturando tons dramáticos com um surpreendente toque de surrealismo.
A jovem Lili (Zsófia Psotta) é obrigada a abandonar seu cachorro após seu pai rejeitar pagar um tributo ao governo pela guarda de um vira-lata em casa. A frustração é gigantesca, e a moça tem dificuldades para esquecer seu amigo. Só que enquanto ela por Hagen nas ruas, o cão passa por maus bocados nas mãos do mercado negro de rinhas da região – além de sofrer maus tratos pelos fiscais municipais.
O ponto chave está na transição do roteiro, que passa a abordar a vingança dos cachorros condenados à morte de forma bastante satisfatória. Ao criar vários vilões durante suas duas horas de rodagem, o diretor Kornél Mundruczó foi extremamente feliz ao inverter a ordem natural e fazer o homem temer o exército de cachorros que ocupavam as ruas. O espectador é cooptado aos poucos e assume uma posição defensiva, preocupando-se com o destino de Hagen – que também passa por um processo de mudança de comportamento.
As cenas de violência – repugnantes tanto pelo lado dos homens quanto pelo lado dos cachorros – afastam o pensamento inicial de que o desenvolvimento do longa passaria apenas pela análise da busca do cachorro perdido de uma menina nas ruas de Budapeste. Também é o suficiente para iniciar uma série de questões morais e éticas, nas quais as respostas ficam a cargo de quem assiste ao filme. É interessante ressaltar que em nenhum momento Lili destaca-se como protagonista, mas atua como o elo de ligação do público com os cachorros, algo que fica nítido nas várias transições de cena e também na tomada dos minutos finais.
Deus Branco é uma boa amostra do que o cinema do leste europeu é capaz. O filme teve um lançamento limitado no Brasil e nos Estados Unidos, mas recebeu atenção o suficiente para colocar o nome de Mundruczó de volta no radar dos jovens e bons diretores de seu país.
NOTA: 7/10