O cinema nórdico, apesar de ter pouco espaço no circuito brasileiro, sempre tem alguma coisa boa para nos oferecer. Infelizmente dependemos da boa vontade das distribuidoras, realidade que, em uma escala menor, também pode ser aplicada para o cinema americano. Por conta disso, é difícil para um espectador comum seguir filmes como Blind, espetacular drama norueguês dirigido por Eskil Vogt.
Entender a essência deste filme requer um pouco de leitura sobre o panorama da sétima arte naquela região. Tradicionalmente fechada, as películas de Ingmar Bergman certamente seriam a referência inicial para ver como o cinema sueco, dinamarquês e norueguês se afastou da Europa Ocidental. O que quero ressaltar é que boa parte dos filmes nórdicos são minimalistas, presos a um roteiro bem estruturado, a uma linha de atuação dura e seca (o principal alvo de críticas dos franceses e italianos, que os acusam de falta de emoção) e, principalmente, a uma redução na escala de análise que pode incomodar o espectador.
Blind, em uma rápida análise, é um filme onde a perda da visão é o tema central. No entanto, a profundidade e complexidade do tema chama a atenção de tal forma que a composição por camadas do roteiro cria algumas interrogações que são respondidas de forma satisfatória apenas nas cenas finais. Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que ficou cega por conta de uma doença degenerativa. Seu relacionamento com seu marido, Morten (Henrik Rafaelsen), não escapa das várias dificuldades, e os dois começam a se distanciar aos poucos. Atuando como narradora da história, Ingrid nos apresenta a Einar (Marius Kolbenstvedt), um homem viciado em pornografia extrema, que adquire o hobby de espiar sua vizinha Elin (Vera Vitali), uma mãe recentemente divorciada, pela janela.
A divisão do roteiro é fundamental para a compreensão de que nem tudo o que vemos condiz com a realidade nua e crua. Nos primeiros trinta minutos nos aproximamos da rotina de Ingrid, e suas atividades diárias nos mostram o quão difícil é viver às escuras. A meia hora a seguir intercala segmentos nos quais os quatro personagens principais se relacionam de alguma forma, seja via diálogo ou através de relações sexuais. Os trinta minutos finais tratam de montar as peças do quebra-cabeças e responder as dúvidas que pairam na cabeça do público.
Uma história dentro de uma história. Os noventa minutos de Blind são resumidos com perfeição nesta frase. A experiência final é interessante e deixa boas aberturas para discussões morais e éticas de temas explorados em sua rodagem.
NOTA: 7/10