Sedmikrásky (As Pequenas Margaridas, no Brasil) proporciona uma das melhores experiências visuais apresentadas em um filme europeu. O festival de cores apresentado pela diretora Vera Chytilová dá um tom surrealista a esta obra, banida imediatamente após seu lançamento por fazer escancarar a luxuria.
Duas moças chamadas Marie (Jitka Cerhová e Ivana Karbanová) parecem se destacar em uma geração onde as mulheres de seu país pareciam reprimidas. A paixão das duas pela comida faz com que elas joguem seu charme para cima de homens mais velhos, que as levam para o restaurante (onde elas realizam todos seus desejos gastronômicos) e pagam a astronômica conta de consumo. Elas não se sentem culpadas de prometer algo a mais para os idosos e os enganar ao levá-los a estação de trem – local onde elas desaparecem.
O roteiro é extremamente simples, mas muito sofisticado. Tanto na cena inicial quanto na cena final, a diretora se comunica diretamente com o público através do uso de intertítulos. Por ser um filme curto, não existe a chance de analisar a personalidade de cada uma das meninas, mas o caráter compulsivo delas já é o suficiente para entender seus atos e pretensões. Fica claro que elas vivem em seu próprio mundo, e que os demais humanos tem pouca influência no modo de pensar e agir delas. A fotografia não segue um determinado padrão – uma vez que passa do preto e branco ao colorido em alto contraste. O que é interessante ressaltar, no entanto, é que Vera brinca com este fato e cria uma memorável cena onde as duas começam a brincar com uma tesoura e cortam tudo o que enxergam pela frente – e não demora muito até para o próprio filme entrar na brincadeira.
Os censores não aceitaram lançar o filme na República Tcheca por vários motivos: apesar da luxúria ser citada na ata oficial, na apelação de Vera para garantir a estreia o comitê de censura destacou que não aceitaria de forma alguma liberar a exibição de algo que rebaixasse (!?) a imagem das mulheres tchecas perante a comunidade internacional. Diferentemente de outros filmes da época, As Pequenas Margaridas não teve maior reconhecimento no mercado americano – somente anos depois a Academia começou a estudar este filme.
NOTA: 7/10