Santa Sangre é um filme esteticamente perfeito. Qualquer que seja sua visão sobre a obra surrealista de Alejandro Jodorowsky, deve-se admitir que os padrões adotados no curso de rodagem desta película são sólidos ao ponto de deixar de queixo caído até mesmo o mais conservador dos espectadores.
A história trata da difícil vida de Fenix, um mágico de circo mexicano. Interpretado pelos dois filhos de Jodorowsky (Adan na infância e Axel na mocidade), nosso protagonista é fruto do relacionamento da trapezista Concha (Blanca Guerra) com o respeitado atirador de facas, Orgo (Guy Stockwell). Sua melhor amiga, Alma (Faviola Elenka Tapia na infância e Sabrina Dennison na mocidade), é muda e filha da sensual mulher tatuada (Thelma Tixou), que apresenta seu número junto de Orgo. Para a desgraça de todos no circo, certo dia Concha descobre a traição de seu marido com a tatuada e decide se vingar. Após atirar ácido nos órgãos genitais do homem, ele faz questão de cortar fora os dois braços de sua esposa, e, vendo que sua vida sexual havia acabado naquele momento, opta pelo suicídio. O trauma deste episódio foi tão grande que Fenix nunca mais conseguiu ser o mesmo: o menino cheio de esperanças deu lugar a um homem que vive uma grande fantasia em um manicômio, muito por conta dos fantasmas do passado (especialmente o de sua mãe).
Após seu lançamento, em 1989, uma polêmica tomou conta tanto da crítica americana quanto dos especialistas europeus: como classificar um filme deste calibre? Será que o gênero “horror” seria bom o suficiente para abranger uma produção tão completa apenas por conta da violência explícita (motivo do rating NC-17 nos Estados Unidos)? A resposta é não. Santa Sangre, em sua essência, é uma grande fantasia que pega um pouquinho de cada filme anterior produzido por Jodo. Em uma análise mais atenta, o drama pessoal de Fenix mistura-se com elementos de ficção científica e um ar de suspense. O “horror” apenas se justificaria pela repulsa de cenas fortes – e quem acompanhou o especial deste mês aqui no site sabe que esta é uma marca ímpar do diretor.
Dentre as tantas considerações e lições que podem ser tiradas daqui, talvez a mais significativa esteja nas distorcidas visões de mundo lançadas – especialmente a de Fenix. A natureza e o absurdo se unem em prol de um culto ao inacreditável, que pode muito bem ganhar traços de realidade a partir da interpretação pessoal de cada espectador. Clássico cult, Santa Sangre é indispensável! A versão em Blu Ray é uma das mais completas que já vi sobre um filme deste gênero, já que inclui cenas deletadas, um documentário de uma hora e meia sobre a produção e três entrevistas sensacionais com Jodo (uma melhor que a outra!).
NOTA: 8/10
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