Kingsman: The Secret Service (Kingsman: Serviço Secreto, no Brasil) é uma mistura balanceada entre violência cartunesca e humor britânico. A adaptação da série em quadrinhos homônima tem fôlego para se sustentar pelos 130 minutos de rodagem, mas, apesar de algumas agradáveis surpresas, cai nos erros comuns nos filmes do gênero.
Colin Firth interpreta o agente secreto Harry Hart, um dos talentosos homens à serviço de uma agência de espionagem chamada Kingsman, liderada pelo aristocrático Arthur (Michael Caine). Após a misteriosa morte de um espião, um processo de seleção é criado para selecionar um jovem britânico. Na primeira metade do longa acompanhamos como Eggsy (Taron Egerton) é recrutado por Hart e passa por uma dura rotina de treinamentos para tentar ganhar a posição na agência. Na sequência, descobrimos que o bilionário Richmond Valentine (Samuel L. Jackson) tem uma maléfico plano para combater o aquecimento global – que coloca em risco todos os habitantes do mundo.
A série de comics escrita por Mark Millar destaca-se pelas paródias aos gadgets utilizados por James Bond – algo que é mantido em sua essência mas modificado a medida que os personagens tornam-se dependentes deles para seu sucesso pessoal e profissional. Kingsman abusa da boa vontade do espectador ao pedir para que o mesmo feche os olhos diante dos vários furos de roteiro: não existe uma contextualização da vida de Eggsy – e isto segue durante todo o filme: não sabemos, por exemplo, como um jovem que passou por algumas semanas de treinamento é capaz de enfrentar uma mortal vilã de igual para igual. Para piorar, se você compilar os acontecimentos dos últimos trinta minutos e colocar em uma folha de papel verá que tudo poderia ser resolvido através dos computadores, uma forma simplista de tratar o caso que poderia acabar com o mundo.
Dentre os abusos artísticos – comuns no gênero – é nítido observar como o protagonista sempre consegue sair intacto das mais cabulosas perseguições. Em algumas cenas parece que seus rivais estão armados com balas de festim ou não estão autorizados para atirar. E, claro, sempre existe um recurso na manga para o bem vencer o mal. A única quebra deste padrão acontece com o personagem de Colin Firth, em uma passagem que me lembrou muito o toque de Lock, Stock and Two Smoking Barrels (no qual Matthew Vaughn foi produtor).
O desfecho de Kingsman é insatisfatório é torna toda a ação em uma grande piada. Se este recurso fez com que Vaughn ganhasse ainda mais crédito com o público que o aplaudiu por Kick-Ass, certamente não seria a melhor opção olhando para a possível sequência, já que dita um tom muito específico para a série e deixa os produtores reféns do diretor para qualquer nova empreitada. Kingsman: The Secret Service por nenhum momento trata a violência e o sangue de forma séria – ele são jogados na tela e viram o grande espetáculo da sessão. Não é algo revolucionário, mas funciona muito bem com o grande público sedento por ação.
NOTA: 6/10