Dirigido por Ava DuVernay, Selma não é apenas um filme, mas uma verdadeira aula de história para aqueles que buscam entender o complexo ano de 1965 no contexto da luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses.
Após o presidente Lyndon Johnson (interpretado no filme por Tom Wilkinson) assinar a Lei dos Direitos Civis de 1964, o movimento liderado pelo Doutor Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) buscava o direito de voto dos negros de todo o país. No caso do estado de Alabama – em que o governador George Wallace (interpretado pelo ótimo Tim Roth) não reconhecia o direito desta minoria – a polícia mostrava-se disposta a barrar qualquer tipo de manifestação, até mesmo as feitas de forma pacífica. O longa retrata as três marchas organizadas pelo grupo de negros (que ganha simpatizantes em todo o país) para garantir o voto a todos.
Produzido por Oprah Winfrey e com um elenco de primeira categoria, curiosamente o filme que tem como foco o MLK não tem sequer um discurso real dele. Isto ocorreu por conta de disputas entre a família de King (que mantém os direitos de reprodução de suas falas) e a equipe de Selma, que infelizmente não chegaram em um denominador comum. As falas do Dr. King foram criadas pelo estreante roteirista Paul Webb, que consegue explorar a incrível semelhança de David Oyelowo com MLK, mas não consegue colocar nas bocas do ator nada parecido com o que o Doutor pregava na década de 1960 em conteúdo – que também pode ser explicado pelo receio dos produtores em copiar trechos originais e receber um processo milionário nas costas.
Alguns outros pequenos detalhes chamam muito a atenção: além de todo o trabalho feito para dar o ar da década de 1960, a narrativa baseia-se em textos retirados de documentos do FBI que precedem a maioria das cenas chave. É a partir destes relatos que ocorre o desenvolvimento das cenas, sempre com o foco exclusivo para as marchas. É por este motivo que Selma não é a cinebiografia definitiva de MLK, como imaginava-se dois anos atrás. Muitas coisas ficam para trás, e a personalidade do Doutor não é explorada de forma satisfatória (até mesmo pela limitação de suas falas). Ainda assim, todos os demais personagens históricos conseguiram ser retratados de forma satisfatória, com base em uma profunda e séria pesquisa acadêmica. Johnson, por exemplo, pode ser visto em várias cenas aplicando o famoso “Johnson treatment” em King e Wallace.
NOTA: 8/10
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