Quando a Disney chamou Rob Marshall para adaptar o musical da Broadway Into the Woods, a comunidade do cinema americano ficou dividida: se suas credenciais como um diretor de musicais eram inquestionáveis, muitos acreditavam que tal opção não seria a mais correta para um filme que foge um pouco do projeto familiar da Disney. No fim, o resultado do longa que chega ao Brasil com o nome de Caminhos da Floresta é uma mescla de ambas as previsões, uma vez que as cenas musicais são bem construídas, mas o ambiente e a fotografia negra tornam-se altamente questionáveis.
A história trata sobre um padeiro (James Corden) e sua esposa (Blunt), que descobrem que a bruxa (Streep) colocou um feitiço no casal para eles não terem nenhum filho. Para quebrar a maldição eles devem entrar na floresta para conseguir uma série de itens – e acabam se deparando com personagens como a Chapeuzinho vermelho (Lilla Crawford) e o ameaçador lobo (Johnny Depp); João, do pé de feijão (Daniel Huttlestone) e sua mãe (Tracey Ullman); Rapunzel (Mackenzie Mauzy); e a triste Cinderella (Kendrick), que vê que o príncipe encantado (Chris Pine) não é bem o que ela pensava ser.
Minha principal crítica a Marshall é o fato de que seus investimentos na produção de seus longas são excessivos e quase sempre chamam mais a atenção do que o roteiro propriamente dito. Aqui não é diferente: a maquiagem é linda, a produção é muito boa, o elenco conta com nomes de peso e o musical base é extremamente bem sucedido. Só que o resultado peca por seu preciosismo na condução de várias tomadas, com cortes sem sentido e transições de cenas que deixam muito a desejar. Quem conhece um pouco da história do musical sabe que a tesoura correu solta na adaptação, que investiu apenas na história básica dos dois atos originalmente produzidos na Broadway e omitiram várias relações. O espectador pode achar incrível ver vários de seus personagens favoritos em uma única tomada, mas garanto que a essência do longa foi comprometida justamente por isto.
Durante a rodagem do longa a atriz Emily Blunt disse que este filme não tem a marca da Disney. Isto é verdade, e é por isto que considero que este estúdio não poderia estar envolvido em tal adaptação. Apesar de Marshall ter suavizado várias passagens, o musical faz questão de desconstruir as fábulas mágicas que encantam milhões de crianças todos os dias. Uma das músicas do longa, por exemplo, trata sobre a natureza dos pedidos e desejos feitos pelas pessoas de uma forma contrária a que é pregada pela própria Disney. O rating PG nos Estados Unidos também limitou qualquer abordagem mais profunda, diga-se de passagem.
Se as atuações do elenco super estrelado são agradáveis, o mesmo não se pode dizer do problemático roteiro. É fácil dividir Into the Woods em dois momentos: o da história e o das consequências. A primeira hora do filme é surpreendentemente boa, com uma mistura incrível dos contos de fadas e fábulas – crédito que, na verdade, vai para o musical que é dividido em dois atos. A partir do momento em que todos os desejos são realizados, o filme perde o fôlego e começa a dar voltas para se explicar a cada cinco minutos – fugindo da proposta original do musical.
Ótima produção, péssima execução. Considero Into the Woods favorito ao Oscar de melhor figurino, mas provavelmente seu legado será restrito a mais uma indicação de Meryl Streep ao Oscar.
NOTA: 5/10
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