Existe uma máxima quase intocável no cinema que diz que uma sequência nunca pode ser melhor do que seu filme original. Admito que fiquei positivamente surpreso ao assistir El chanfle 2 e ter a rara oportunidade de jogar contra essa teoria. Além de estarmos acostumados com os personagens e suas características próprias, a possibilidade de sair fora do campo de futebol fez muito bem a este longa dirigido pelo grande Roberto Gómez Bolaños.
A sequência do primeiro filme mostra Chanfle como treinador das categorias de bases do América do México. Convidado pelo senhor Matute (Rubén Aguirre), o personagem de Chespirito é acompanhado de sua mulher, Tete (Florinda Meza) e de sua filha para um simpósio que discutiria os rumos do time. Além da presença do novo técnico do América do México, também foram para o evento o Dr. Najera (Édgar Vivar) e a mais nova secretária da equipe (interpretada por Angelines Fernández) – que, por sua vez, leva junto seu marido, Paco (Chato Padilla). Mas quem disse que o simpósio seria apenas uma viagem de negócios e lazer? Diana (Maria A. de las Nieves) é contratada para trabalhar para um contrabandista (Horacio Bolaños) e levar para seu poder uma bola de futebol com joias preciosas. O roteiro é construído em uma grande confusão que acontece quando Diana confunde o interceptador da jóias com Chanfle e o interceptador pensa que Tete tem as joias em seu poder e dá 25 mil dólares pelo pacote (que na verdade era oito fraldas sujas).
O hotel de luxo que recebe o filme traz passagens que lembram muito dos episódios de Acapulco de Chaves e Chapolin. Toda a situação do contrabando é bem explorada, e, mesmo que bastante irreal, o roteiro não apresenta nenhum furo, já que Chespirito fez questão de explicar detalhe por detalhe. A possibilidade de fazer humor em um espaço tão aberto é infinitamente maior do que dentro de um campo de futebol, o que explica minha impressão de que este filme foi muito mais agradável de se assistir.
Infelizmente Ramón Valdez e Carlos Villagran não participaram das filmagens: enquanto o protagonista de Kiko abandonou os programas de Chespirito em 1979, o eterno Seu Madruga batalhava contra sua doença, e mesmo após deixar de trabalhar com Chespirito em 1979 e ter regressado por uma breve passagem em 1981 – não participou das filmagens. Ainda que a falta de suas presenças possam ser sentidas, em nenhum momento elas prejudicaram o roteiro, já que o jogador interpretado por Villagran não participaria do simpósio e o treinador de Valdez foi prontamente substituído (e com uma boa explicação).
Dentre toda as atuações, durante a exibição do longa fiquei bastante incomodado com o personagem de Raúl ‘Chato’ Padilla, um bêbado meio sem rumo, de interesse secundário. Mesmo com seus pecados, Bolaños, como sempre. conseguiu tirar um coelho da cartola ao vencer os problemas para criar uma interessante continuação de seu mais premiado filme.
NOTA:7/10