Clouds of Sils Maria é um filme ambicioso. Com duas horas de duração e com várias linhas de diálogo, o diretor Olivier Assayas apostou em uma história que engloba ciúmes, amizade, o peso da idade, manipulação e insegurança.
O roteiro é dividido em três seções – introdução, desenvolvimento e epílogo – sendo que a segunda delas ocupa a maior parte da rodagem. No caminho de uma importante premiação do diretor que turbinou sua carreira com a peça Maloja Snake (mais tarde adaptada para o cinema e com o mesmo êxito), a famosa atriz Maria Enders (Juliette Binoche) e sua assistente Valentine (Kristen Stewart) recebem a notícia do suicídio do diretor ainda no trem que as levava para Zurique. Durante esta etapa da introdução, descobrimos a importância que este homem teve na vida de Maria, e a gratidão que ela guarda por ser reconhecida internacionalmente graças a ele. Maloja Snake contava a história de uma jovem moça que se envolvia com uma senhora de idade – e Maria é convidada para inverter os papéis mais de três décadas depois da peça original e dividir a cena com a jovem estrela Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz).
É interessante observar que o desenrolar do segundo ato interfere diretamente na relação de Mara com Valentine. Ao ensaiar para a peça em Sils Maria, elas desenvolvem uma amizade bastante atípica, já que existe uma clara separação entre chefe/empregada. Juliette Binoche é uma atriz de ponta, vencedora do Oscar e dispensa comentários quanto sua competência. Mesmo que mantenha o título de vencedora prêmio principal da Academia mais desconhecida do público dos Estados Unidos, ela passa uma credibilidade tremenda. Por estar do lado de uma mulher do mais alto calibre, pensei que Kristen Stewart pudesse se acanhar. Engano meu: a jovem entrega uma interpretação muito boa. Parece que sua personagem foi escrita par ela.
A maravilhosa fotografia não é o suficiente para compensar a edição dura – e a esquisita transição de cenas. Além disto, temos também várias passagens que poderiam ser removidas para dar mais tempo para diálogos que poderiam esclarecer sobre determinadas questões. Ao mesmo tempo em que temos cenas de Maria e Valentine caminhando por vários minutos nas montanhas de Sils Maria, não sabemos qual foi o teor da fala da personagem de Binoche na premiação do diretor. Um pouco mais de capricho na edição poderia resolver facilmente este problema (que deve ficar para as cenas extras no lançamento do Blu Ray).
Mas o maior problema na construção de Clouds of Sils Maria está na transição do desenvolvimento para o epílogo. O espectador fica sem respostas para uma cena impactante – o diretor deixou claro que queria aguçar a curiosidade de seu público – o que afeta completamente a forma como observamos a saída de cena das protagonistas. Não existe um claro senso do qual era a proposta do filme, já que, por trazer a tona vários temas de grande interesse, estes acabam sendo tratados de forma muito superficial, dado seu desfecho.
NOTA: 6/10