Assim que terminei de assistir Enemy (que teve a maior audiência do site até o presente momento) me deparei com The Double (O Duplo, no Brasil). O longa assinado por Richard Ayoade (The IT Crowd), apesar de partilhar da mesma premissa básica da história levada ao cinema por Denis Villeneuve, diferencia-se em muitos aspectos. A começar pelo roteiro, baseado na grande obra homônima de Fyodor Dostoyevsky.
Vamos ao plot básico: Jesse Eisenberg interpreta Simon James, um desajeitado homem que destaca-se pela sua excessiva timidez. Desprezado pelos seus colegas de escritório, até mesmo sua mãe (Phyllis Somerville) olha para o rapaz com desconfiança. Seu chefe, Papadopoulos (Wallace Shawn) não consegue se lembrar do nome de Simon mesmo após todos seus anos no emprego. E a linda jovem Hannah (Mia Wasikowska) se mostra assustada em tentar qualquer coisa com um cara tão estranho.A partir desta narrativa, uma ambientação bem próxima de Brazil (1985) foi criada para se manter fiel a paranoia que virá na sequência: um homem igual Simon James (SJ) – James Simon (JS) – aparece de uma hora pra outra começa a interferir diretamente em sua vida. Se SJ não conseguia se destacar no trabalho, JS ganha promoções e elogios de seu chefe. Enquanto SJ luta para chamar a atenção de Hannah, o JS mostra-se o verdadeiro garanhão, chamando também a atenção da filha do patrão por conta de seu instinto feroz.
O que faltou foi aquela pegada de um thriller – ou até mesmo um andamento como o de Brazil, explorando toda a escuridão dos personagens e seus hábitos bizarros. Diferentemente de Enemy – em que você tem a disposição uma gama de explicações e escolhe aquela que quiser – este longa não possui nenhuma surpresa. Fica claro desde os primeiros minutos que SJ e JS são a mesma pessoa. JS seria a representação do homem que estava preso dentro da timidez de SJ, incapaz de beijar uma mulher ou reclamar com o chefe. O diretor citou que sua principal fonte de inspiração foi a clássica adaptação de O Julgamento por Orson Welles. A trilha sonora é agradável, algo que soa esquisito em um filme deste tipo.
Jesse Eisenberg está longe de ser o principal problema deste filme. Ainda que sua atuação esteja presa a caras e bocas e estranheza, o ponto fraco de The Double é a falta de um objetivo específico para explorar. Fyodor Dostoyevsky ficaria horrorizado com o que foi feito com sua obra. Falta profundidade nas relações entre os personagens apresentados e as linhas de diálogo são sofríveis. Talvez com um pouco mais de cuidado da produção, poderia estar aqui falando de um excelente longa. Não é o caso. Fique com a experiência positiva de Enemy.
NOTA: 6/10