Não pense que Musica de viento integra elementos de construção de roteiro presentes nas séries Chaves, Chapolin ou de todos os demais programas de televisão de Chespirito. O último longa do grande Roberto Gómez Bolaños apresenta um ator maduro. Como comentei anteriormente, Chespirito sempre fez questão de separar televisão e cinema.
Quevedo (Chespirito) é um homem fora de série: além de bem educado, comunica-se bem e tem um ótimo emprego. Valentina (Florinda Meza) trabalha como assistente na mesma empresa do nosso protagonista e não entende o “jeito gracioso” com que o homem trata as pessoas. Só que diferentemente do que todos pensam, ele não se relaciona com mulheres por conta de um problema psicológico: toda vez que ele vê uma arma, começa a soltar gases. Ao mesmo tempo em que ele começa um tratamento psicológico para ter uma vida normal, os problemas internos de sua empresa começam a aparecer – e até mesmo ameaçar sua integridade física.
O problema de Musica de viento não está necessariamente na atuação, mas sim na construção do longa: na década de 1980 os mexicanos lutavam para tornar suas produções nacionais rentáveis frente aos grandes lançamentos dos Estados Unidos. Por este motivo, a esmagadora maioria de filmes lançados no circuito daquele país tinha inspiração no modelo americano: comece com um problema, explore as possibilidades de resolver, e feche o longa com a solução. A grandeza de Chespirito amplia o que poderia ser considerado uma história bizarra e sem sentido em algo agradável. Não é algo prazeroso de se ver, mas torna-se de grande valor uma vez que podemos analisar a atuação deste grande humorista em um papel completamente oposto do que ele estava acostumado a fazer.
Sim, a relação entre gases e homens é estranha. Para quem não entendeu, a música referenciada no título faz jus aos barulhos produzidos naturalmente pelos humanos. Não é agradável ficar ouvindo esses barulhos, mas é surpreendente ver como um filme pode ser construído através de uma ideia tão simples.Sem entrar na zona de conforto, Bolaños conseguiu entregar uma ótima atuação em um papel bastante diferente. Por alguns minutos, fiquei com a mesma sensação que tive ao assistir Charlie Chaplin em A King in New York: o mito estava atuando, mas faltava algo. Talvez por estarmos acostumados com as frases e os personagens típicos.
NOTA: 5/10