Como fazer um ótimo filme de ficção com poucos recursos? Talvez esta seja a principal pergunta entre os roteiristas e produtores que se aventuram no mundo do cinema ficção paralelo a Hollywood. Se na Califórnia você tem um pequeno grupo de pessoas com muito dinheiro buscando apenas longas que abusem de efeitos especiais, no restante dos Estados Unidos o cinema independente começa a dar seus primeiros passos neste gênero.
Não me entendam mal: quero dizer que apenas na última década a captação de recursos e o financiamento destes longas deixaram de dar prejuízos para começar a trazer lucros sem depender das vendas de DVD / Blu-Ray anos depois.
Coherence mostra uma história polida, com um roteiro extremamente bem construído e que consegue prender a atenção de seu espectador por conta do suspense gerado nos primeiros minutos. No primeiro filme dirigido por James Ward Byrkit, oito amigos se reúnem para jantar em uma noite marcada pela passagem de um cometa. Só que aos poucos eles percebem que as coisas mudam de uma hora pra outra. A personagem central é Em (Emily Baldoni), que centraliza o elemento racional em meio das loucuras que ocorrem durante a noite. Toda a perspectiva da narrativa foi construída em cima da interpretação de muitos mundos (pesquise sobre o Gato de Schrödinger, caso fique confuso).
Se eu fosse definir o espirito deste filme, certamente diria que ele bebe da mesma fonte de The Man from Earth (2007) e Melancholia (2011). O primeiro por conta de toda a história sobrenatural que aos poucos é explicada de forma bastante satisfatória. O longa de Lars Von Tier, por todo fenômeno que envolve a mudança de personalidade dos personagens e o ar de suspense perante uma situação em que o espectador sabe de antemão .
O uso de atores B provou que a economia às vezes compensa. O casting foi muito bem feito, e cada personagem destaca pelo menos um traço de sua personalidade logo nos primeiros minutos, o que não deixa de ser um grande feito para um filme deste porte. As filmagens foram feitas na casa do diretor, os atores usaram suas próprias roupas e a maquiagem foi feita por uma amiga de Baldoni (que não cobrou os serviços, por sinal), Contenção de recursos foi a palavra chave.
O ponto negativo fica para as pesadas transições. Contei pelo menos três vezes em que a tela escurece totalmente para mudar a cena – não que isto seja ruim, mas como o filme já traz a queda de luz como uma peça do roteiro, achei desnecessário.
Ainda assim, Coherence é uma das grandes surpresas do ano.Vale assistir!
NOTA: 7/10