Expressionismo alemão. Um dos movimentos mais discutidos e admirados pelos fãs de cinema.
Mês passado, em uma exposição que fiz sobre os primórdios do cinema europeu, um amigo me perguntou se Robert Wiene pode ser considerado o “pai dos expressionistas” por conta de Das Cabinet des Dr. Caligari. Respondi que não. Boa parte da minha argumentação parte da análise de Der Student von Prag (O Estudante de Praga, no Brasil), sabidamente o primeiro longa a levar a nata intelectual de Berlim as salas de cinema.
Wiene teve a capacidade de gerar algo tão bom com tão pouco que seu prestígio é intocável. Sim, concordo quando alguém diz que ele foi o homem que inventou o cinema do medo. Mas boa parte dos expressionistas da década de 1920 buscaram inspiração em uma produção dirigida por Hanns Heinz Ewers e Stellan Rye os moldes que popularizaram os filmes de F. W. Murnau e Fritz Lang, por exemplo.
O roteiro é baseado em uma novela de Alfred de Musset, citado diversas vezes ao longo do filme. Balduin, interpretado por Paul Wegener, a primeira estrela do cinema alemão, vive sem uma moeda no bolso na cidade de Praga, no ano de 1820. Ele acaba salvando por acaso a condessa Margit Schwartzenberg (Grete Berger) de um afogamento, o suficiente para despertar uma louca paixão em seu coração. Só de pensar na beleza e na delicadeza da mulher, Balduin fica desolado ao notar que jamais teria uma chance com ela. É então que Scapinelli entra na história. Ele faz uma espécie de pacto com o Diabo e vende seu reflexo no espelho por uma grande quantidade de dinheiro. Agora rico e respeitado por toda sociedade, o homem acaba mergulhando em uma série de problemas ao notar que foi duplicado.
Sem o apoio de nenhum estúdio, este filme também é um dos primeiros exemplos de uma produção independente de sucesso. Além de um toque extremamente rápido, as belas tomadas coordenadas por Guido Seeber, o gênio do contraste no cinema mudo, impressiona muito.
Voltando ao tópico inicial desta discussão, acredito que o anacronismo é um dos erros mais comuns hoje em dia. Sempre ao olhar para o passado queremos justificar nossas ações com base em afirmações sólidas e sabidamente de sucesso. Claro que quem for procurar por expressionismo alemão no Google ou na Wikipédia vai destacar Lang ao invés de Rye e Ewers. Só que a experiência pós-guerra de isolamento de autoafirmação só deu certo após muito estudo, que englobava o que se produziu no Império e o que se produzia em uma frágil República de Weimar. Ao valorizar uma desestruturação de seu protagonista (com direito a um final arrepiante) ao invés de dar traços de comédia ou romance na história, Der Student von Prag limitou muito seu público, e, infelizmente, perdeu muito crédito ao longo das décadas. Injusto, mas este é o cinema.
NOTA: 7/10