Meu vício em cinema me ensinou uma lição que profetizo sempre que o assunto é David Lynch: não tente dar razão a seus filmes, visto que nem ele se preocupa em explicar suas produções. O estadunidense propõe histórias com um alto teor de abertura para que o espectador tente juntar os cacos e criar um final que o agrade.
Após fazer uma série de curtas, Eraserhead foi o primeiro longa de Lynch, criado com o apoio do American Film Institute. O diretor apresentou uma roteiro final de vinte páginas, o que parecia muito mais uma piada do que realidade para os executivos do AFI. Considerando que cada página de roteiro ocupa, aproximadamente, um minuto de um longa-metragem, as escassas linhas de diálogo e os detalhes da caracterização dos personagens e dos pequenos cenários quase interromperam o projeto. Depois do sinal verde, outro empecilho: desta vez, o cronograma proposto por Lynch. As filmagens demoraram alguns anos, e os detalhes que envolvem a construção de Eraserhead ainda são mantidos em segredo, gerando as mais variadas e absurdas teorias conspiratórias que você pode imaginar.
Henry Spencer (Jack Nance) é um homem que parece sem rumo. Ele vive em férias em um subúrbio industrial. Apaixonado por Mary X (Charlotte Stewart), o fruto da união do casal é um ser muito mais parecido com um alienígena do que com um bebê. Atormentado com visões de um homem (Jack Fisk) e de uma estranha mulher (Laurel Near) que canta enquanto pisa em várias miniaturas de seu bebê, Spencer busca solucionar seus problemas se aproximando de sua vizinha (Judith Anna Roberts).
Seria este o filme de terror mais assustador de todos os tempos? Qualquer que seja sua resposta, devemos concordar que o padrão estético aliado a uma impecável trilha sonora gera, no mínimo, alguns momentos de tensão. Isto não ocorre graças a fantasmas, espíritos ou ao demônio, mas sim a vários fatos que abusam do surrealismo e trazem um teor bizarro as cenas. Você nunca sabe o que vem a seguir. Na época de lançamento do longa, em 1977, os espectadores foram ao cinema com a certeza de que o filme abordaria a história de um serial killer, o que pode até ser imaginado por conta de seus estranhos hábitos nos primeiros minutos. Com o passar dos anos, a popularidade de Henry Spencer cresceu e ganhou o status de cult, apesar de que talvez nunca teremos respostas as várias perguntas em aberto, Críticos apontam que o diretor quis expressar todo o medo que sentia quando descobriu que seria pai, sendo a teoria de explicação mais aceita. As chocantes cenas finais da morte do bebê provavelmente foram feitas a partir de restos de coelho.
O primeiro filme de David Lynch é essencial para compreender seu gosto peculiar por histórias sem padrão e abertas. Vale assistir!
NOTA: 7/10
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