Sjećaš li se Doli Bel? (Do You Remember Dolly Bell? e Você Se Lembra de Dolly Bell?, no Brasil) foi o primeiro filme dirigido por Emir Kusturica.

Ambientado na cidade de Sarajevo, o filme no melhor estilo coming of age mostra a história de Dino (Slavo Stimac), um moço de dezesseis anos. O plot principal é dividido em dois. Em destaque, a história de amor do jovem pela prostituta Dolly Bell (Ljiljana Blagojevic). A inocência de Dino contrasta com as dificuldades vividas pela exuberante mulher, que, ainda assim, consegue ser doce e delicada.

Como sempre falo, o primeiro longa de um diretor é essencial para analisar o quanto sua visão de cinema muda ao passar dos anos. Como já mostrei aqui no site, os primeiros filmes do grande Ingmar Bergman são irreconhecíveis – já que sua proposta estética e o toque do roteiro se aproximavam muito mais do teatro do que do cinema propriamente dito. Krzysztof Kieślowski, por outro lado, deixou a crítica política de lado para observar os sentimentos do homem. Mas o caso de Kusturica é muito curioso. Quem conhece sua carreira sabe que ele conseguiu se manter fiel ao que considero seus três pilares: humor, música e roteiro.

No subplot do filme, acompanhamos a família de Dino, liderada pelo seu pai (Slobodan Aligrudic), um comunista que discute as teorias de Marx antes do jantar. Mas diferentemente do que é mostrado em outros filmes, aqui a discussão é feita de maneira impagável. Sempre com uma pitada de humor – quase sempre crítico – Kusturica consegue prender seu espectador com cenas muito bem feitas. Observar a pobreza de Sarajevo, a busca por alimentos e as dificuldades da família de Dino mostram um paralelo muito diferente do que os burocratas da antiga Iugoslávia propagandeavam.

Como o interesse de Emir pela música o acompanhava desde sua infância, a trilha sonora é cuidadosamente orquestrada. No entanto, deixo algumas ressalvas para o espectador do ocidente: por conta das diferentes línguas, é quase impossível traduzir o servo-croata e manter a essência entre a letra e melodia. Por isto, por favor, não vá dizer que as letras não fazem sentido como um famoso crítico proclamou antes deste filme vencer quatro prêmios no Festival de Veneza.

Emir bebe destas duas fontes (humor e música) para criar um roteiro muito limpo. E já adianto que, com o passar dos anos, seus filmes ficaram mais refinados, mas sem perder a essência. Quem tiver a chance de colocar as mãos no DVD não pense duas vezes. A entrevista de Emir é esclarecedora: o diretor fala sobre sua visão de cinema de uma forma muito agradável e nos ajuda a compreender sua proposta.

NOTA:7/10

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