Otac na sluzbenom putu (Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, no Brasil) foi o segundo longa metragem da carreira do diretor sérvio Emir Kusturica. E posso dizer com toda certeza que poucas vezes vi um filme que conseguiu recriar com tanta propriedade um período conturbado da política de um determinado país e ainda assim conseguir fazer graça sem ser chato e apelativo.

Antes das considerações sobre o filme, creio ser necessário um pequeno contexto para aqueles que não são familiarizados com a história da Iugoslávia, c.1950: o Marechal Josip Broz Tito afasta-se de Josef Stalin. Ao criar um Estado com relações diplomáticas independentes da União Soviética, Tito foi expulso da Cominform, primeira associação de países comunistas, por não obedecer as ordens do líder soviético. No período conhecido como Informbiro, a ruptura ganhou traços de guerra quando Stalin ordenou a deportação de todos os simpatizantes de Tito de seu país enquanto o Marechal ordenou a construção do complexo de Goli otok para prender os iugoslavos simpatizantes da Cominform,

No meio destas disputas, somos levados a uma humilde família liderada por Mesa (Miki Manojlovic), um burocrata que é preso pelo seu cunhado Zijo (Mustafa Nadarevic) após demonstrar simpatia pelo Cominform. A narrativa acompanha a vida do menino Malik (Moreno D’E Bartolli), que, ao ver seu pai partir, pensa que ele saiu para uma viagem de negócios – o que explica o título. Entre as tensões políticas da época, a inocência do menino perante a vício de seu pai por sexo e por álcool traz boas risadas.

Como de costume, a trilha sonora é brilhantemente construída. A cena inicial, onde uma música popular cigana é cantada (vídeo abaixo) impressiona muito. O jogo de cores, com filtros levemente cinzentos, faz com que a comédia nunca fique acima do drama que acompanha o menino. O roteiro polido e costurado não deixa sequer um ponto aberto.

O filme vencedor do prêmio de Cannes de 1985 é mágico!

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NOTA:7/10

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