O azul simboliza a liberdade. O branco, a igualdade. O vermelho representa a fraternidade. As cores da bandeira da França, inspiradas nos ideias políticos da Revolução de 1789 foram a base para Krzysztof Kieslowski construir aquela que seria a trilogia mais popular e discutida do cinema europeu.
Trois couleurs: Bleu (A Liberdade é Azul, no Brasil) estreou em 1993 e recebeu apenas críticas positivas. A liberdade proposta pelo diretor polonês não é aquela a que estamos acostumados a ver, geralmente montada em uma bonita história de justiça, como em The Shawshank Redemption, por exemplo. Kieslowski propõe observar o drama particular de um indivíduo para, a partir deste, montar um filme misterioso, sensível e visualmente perfeito.
Juliette Binoche interpreta Julie, uma mulher que sofre com a perda de seu marido e de sua filha em um acidente automobilístico. Da noite para o dia sua vida se transforma completamente, e ela busca se isolar de praticamente todas as formas de contato humano, restringindo sua vida a seu isolado quarto azul. Ela destrói as composições de seu marido, um renomado músico, se desfaz de pertences do casal e guarda apenas uma lembrança de sua filha. Mas apesar de todos seus esforços, ela se confronta com a necessidade básica do ser humano em fazer contato e interferir na vida de terceiros. É assim que ela conhece a dançarina Lucille (Charlotte Véry) – acusada de prostituição por seus vizinhos – e se relaciona com Olivier (Benoît Régent), um homem que visa decifrar a última composição do marido de Julie a todo custo. A partir destas experiências, a jovem moça aos poucos muda sua tática para lidar com seus conflitos internos. O espectador entra no seu mundo privado para acompanhar a protagonista se libertar de todo o peso que carrega nas costas e descobrir um mundo que até ela mesmo desconhecia.
O sucesso deste longa passa diretamente pela aposta em parcerias de sucesso. Na banda sonora, Zbigniew Preisner outra vez montou uma trilha que dá vigor e acompanha com perfeição várias etapas da vida de Julie. Em alguns momentos decisivos do longa, pode-se observar a opção por escurecer completamente e tela e jogar uma nota alta de um soprano, o que apenas evidencia a importância da música para Kieslowski. Sławomir Idziak, diretor de fotografia, aposta nos seus já discutidos filtros para criar um longa belo. As opções pelo azul – apesar de óbvias- são diferenciadas pelo contraste de cada cena, o que chama a atenção.
Um filme adulto, que trata sobre as emoções do homem e nossa capacidade de construir, desconstruir e reconstruir memórias. Não espere respostas, mas procure por alternativas para compreender a liberdade individual que é o tema desta película.
NOTA: 7/10