Começamos o mês dedicado a Buñuel aqui no site com a análise de Un chien andalou (Um cão andaluz, no Brasil), um filme obrigatório para todos aqueles que dizem gostar de cinema. Com apenas dezesseis minutos de duração, você não pode dar a desculpa de que não teve tempo para ver a obra dirigida por Luis Buñuel, que também escreveu o roteiro junto com Salvador Dalí.
Para quem não conhece, este filme é pioneiro em vários quesitos: ele não utiliza nenhuma lógica de sequência, muito menos se preocupa com algum tipo construção de personagem ou com a racionalidade do script. Ou seja, se você for tentar fazer algum tipo de observação apenas pelas cenas mostradas, é bem provável que sua decepção seja grande. Por isto, entender o contexto do movimento de André Breton é bem importante.
O grande Roger Ebert cita que este filme é a principal fonte de inspiração para os produtores e diretores independentes de Hollywood. Ora, imagine o estrondo que este curta causou em 1929, quando o cinema dava seus primeiros passos. Bruñuel mostrou que sim, era possível fazer qualquer tipo de filme. Bastava um pouco de dinheiro e acesso aos equipamentos necessários. Uma cena de nudez, algo impensável na época, gerou tanta controvérsia que foi um fator positivo para a película ganhar notoriedade nos círculos da elite europeia.
Segundo o diretor, “nada no filme tem um sentido definido”. Por isto, ao longo das décadas várias correntes de interpretação buscaram fundamentação teórica para compreender a cena do corte de um olho pela navalha de um homem ou na mão cheia de formigas, por exemplo. A explicação mais aceita entre os acadêmicos hoje gira em torno da psicanálise. Un chien andalou, marco do cinema alternativo, deixa sonhos e fantasias em primeiro plano. O mesmo surrealismo que explorou temas religiosos, sexuais e morais, foi alvo de inspiração para grandes nomes do que eu chamo de “gênero mindfuck”, como David Lynch e David Cronenberg.
Buñuel foi aplaudido por um pequeno grupo que o influenciou a seguir no cinema. Um ano de andalou o polêmico L’Age d’Or viraria caso de polícia na França.
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NOTA: 9/10
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