Eu nunca havia assistido a um filme de ficção tão bom! Cada vez mais me apego à filmografia deste ícone do cinema chamado Andrei Tarkovsky. Ao assistir Solarys passei a analisar com outros olhos algumas cenas de Stalker (leia meu review). A série de caminhos para escolher e a transição do preto e branco e do sépia para o colorido são algumas das marcas utilizadas pelo diretor para dar ênfase a pontos importantes da história contada nas telas. Pensava que eram peculiaridades restritas ao filme de 1979 (o que despertou uma ponta de curiosidade para o assistir pela terceira vez, agora com uma visão um pouco mais madura, até pelas leituras feitas em paralelo). Assim como em Stalker, o filme é bastante longo (2 horas e quarenta minutos de duração) e repleto de simbolismos.
Vencedor do Grand Prix de Cannes no ano de 1972, o roteiro foi baseado no livro homônimo escrito por Stanisław Lem. Solyaris foi uma grande aposta de Tarkovsky. Após ter enfrentado uma série de problemas com a produção do filme Andrei Rublev (1968),o diretor mostrava-se inclinado a fazer um projeto com mais apelo ao público. A ficção científica foi vista pelos russos como um gênero de cinema com muito potencial. Mesmo assim o diretor brigou com alguns produtores e não aceitou deixar sua obra parecida com a dos americanos. Na sua visão, a grande diferença de Solyaris era lenta e gradual construção dos personagens, fato raríssimo nos filmes dos Estados Unidos e da Europa. No corte final do filme, o comitê de de censura da União Soviética proibiu a menção a palavra Deus no longa: Tarkovsky não aceitou as mudanças e ameaçou cancelar todo o projeto. Mas ele sabia que seu país não iria manchar sua imagem e nem perder um caminhão de dinheiro por causa de um capricho qualquer dos líderes da URSS.
O famoso psiquiatra Kris Kelvin (Donatas Banionis) vai à estação espacial Solaris com uma importante missão científica: decidir se deve o trabalho de investigação sobre um misterioso planeta deve continuar após várias a notícia de relatos que apontavam constantes delírios enfrentados pelos pesquisadores. Ao chegar à estação Kelvin já é surpreendido pelo suicídio de um dos integrantes da tripulação, sendo que outros dois, Snaut (Jüri Järvet) e Sartorius (Anatoli Solonitsyn), estão à beira da loucura. Com o tempo o próprio Kelvin passa a se sentir estranho, tendo transes oníricos onde vê sua ex-esposa Hari (Natalya Bondarchuk), falecida há anos.
A racionalidade é posta de lado no mundo criado pelos russos. Barreiras mentais devem ser rompidas para a compreensão dos problemas da estação Solyaris. Os dilemas morais levantados durante a exibição são brilhantemente expostos pelo elenco principal. Esta ficção é daquelas que não precisou de milhões e milhões investidos em efeitos visuais: aliás, os poucos que são apresentados foram feitas de maneira bem precária, mas que não tiram o brilho do longa.
Anos antes de morrer, Andrei Tarkovsky revelou a imprensa que considerou Solyaris como o maior fracasso de sua carreira pois não foi dado a ele ferramentas que pudessem fazer com que o longa transcendesse vários gêneros, como no caso de Stalker. Mas não li nenhuma opinião que concordasse com esta afirmativa do soviético: a solução para o enigma apresentado na história parte de uma análise individual sobre o mundo em que vivemos. Ou seja, não existe respostas prontas sobre o que vimos, temos que pesquisar, ver e rever. Isto é cinema! Depois desta grande experiência, prometi dar um jeito de assistir aos filmes que ainda não vi deste grande diretor o quanto antes. Em breve, mais reviews de Tarkovsky aqui no site!
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NOTA: 9/10
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