Divergent (Divergente, no Brasil) falha em todos os aspectos básicos de uma produção de cinema: seleção do elenco, roteiro, edição e continuidade. A história baseada no best-seller de Veronica Roth massacra o espectador por mais de duas horas com sequências repetitivas e sem sentido.
Chicago está dividida em facções: abnegação, amizade, audácia, erudição e franqueza. Elas são necessárias para o manter o equilíbrio e a ordem na cidade. Tris (Shailene Woodley) é uma das poucas pessoas que não se encaixa em nenhuma destas categorias, o que a torna uma divergente. Ela deixa sua família e troca de facção (sai da abnegação para a audácia) para tentar se adaptar a um estilo de vida diferente do que ela vivia. Durante seu treinamento ela encontra o misterioso Four (Theo James), que aos poucos nota que ela é diferente e passa a se interessar pela moça. Ambos descobrem que Jeanine (Kate Winslet), líder da Erudição, tem um plano para tirar do poder os governantes da abnegação e colocar os seus no topo da cidade. É então que a dupla decide se rebelar
A ascensão do diretor Neil Burger após o sucesso do apaixonante The Illusionist foi tão rápida quanto seu visível declínio. Ele se perde na transição das tomadas e não consegue expandir o universo do livro: durante boa parte do filme parece que estamos presos a um único cenário, já que a maioria das cenas acontece no treinamento da protagonista. Falando em Shailene Woodley, não posso deixar de criticar a escolha desta moça para o papel principal. Ela é uma ótima atriz e se dá muito bem com situações dramáticas. Eu mesmo a elogiei por seu desempenho em The Spectacular Now. Só que fica muito claro que ela não dá conta do papel. Ela é frágil e parece que seu corpo não acompanha as cenas de ação. Talvez a pressão para se tornar uma nova Jennifer Lawrence não tenha feito bem a sua imagem. Ela se destaca nas justamente quando faz par com Theo James, que dá sustentação a uma protagonista sem rumo.
As falhas no roteiro também chamam a atenção. Compreendo que boa parte delas estão atreladas ao livro, mas a forma com que Tris consegue sempre inverter situações negativas de uma forma fácil é apenas um dos vários exemplos da falta de polimento do script. Outra coisa que me perturbou bastante foi a completa e absoluta falta de contextualização. Por qual motivo estas facções existem? Como é a divisão do mundo? Se os divergentes são tão perigosos, por que nunca existiu uma resistência organizada? Como funciona o sistema econômico e a integração social? Qual o papel dos excluídos? Estas são apenas algumas perguntas que recebem respostas amplas e nunca são exploradas.
Esperava deste filme uma experiência próxima a de Equilibrium. Mas o resultado final é um filme que visa abocanhar o público adolescente com cenas de ação, romance e drama extremamente superficiais. Nem mesmo a presença de Kate Winslet é suficiente para amenizar a desarticulada história jogada na tela do cinema.
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NOTA: 2/10