Colocar atores profissionais no papel de personagens de livros de fantasia foi um problema que gerou calorosas discussões em Hollywood no começo da década de 1930. Tenho absoluta certeza de que se este filme fosse colorido teria um impacto e repercussão muito maior do que a obtida. Falo isto pois tenho em mente o sucesso e o legado deixado pelo longa mais famoso deste gênero, The Wizard of Oz (1939).
A Paramount acreditava ser um risco trazer histórias de autores como Lewis Carroll para as telas de cinema. Para chamar as crianças e os adultos às sessões, os executivos contrataram alguma das maiores estrelas da época: temos no elenco nomes como Cary Grant, Gary Cooper, Charlotte Henry, Richard Arlen e Edward Everett Horton. Este filme foi a segunda experiência de um all-star cast na história do cinema americano (sendo a primeira Grand Hotel).
Justiça seja feita, o ambiente do mundo de Alice é mágico. Como sempre, convido o leitor a imaginar a dificuldade para fazer um filme deste tipo em 1933. Sem nenhum recurso para edição de imagem, a habilidade da equipe técnica era necessária para criar ilusões de ótica. Imagino o trabalho que deu editar quadro por quadro para gerar uma tomada da personagem principal flutuando, por exemplo. Além do vestuário ser de primeiro nível, fiquei impressionado com a quantidade de detalhes e o cuidado com a montagem de cada tomada. O roteiro é baseado especialmente em trechos de Alice’s Adventures in Wonderland, mas alguns problemas não podem passar despercebidos: na tentativa de adaptar o livro com máxima precisão, os personagens são “jogados” na grande tela. Quero dizer com isto que não existe nenhuma ligação ou conexão de uma cena com outra. Uma tática muito boa para o teatro, mas sem valor no cinema.
As críticas que o filme recebeu confirmavam os temores da Paramount: as pessoas não compraram a ideia e acharam estranho ver seus atores favoritos em trajes estranhos falando de forma rápida e engraçada. Só quem conhecia a voz de Grant sabia qual era o personagem interpretado pelo ator. O filme foi um grande flop e conseguiu arrecadar apenas o suficiente para pagar a produção. O mais interessante é que as próprias pessoas que organizaram o longa tinham dúvidas quanto certos exageros na fantasia: ao invés de atores interpretarem a cena do popular conto The Walrus and the Carpenter, o diretor Norman Z. McLeod preferiu não arriscar e optou por mostrar o trecho em desenhos.
A versão de 1933 de Alice in Wonderland tem duas fitas: a original de 90 minutos e a versão da TCM de 77 minutos. Infelizmente a Paramount não disponibilizou em DVD ou BR o corte original. Sem nenhum tipo de apelo, o longa hoje é voltado para o público adulto fã de cinema ou para aquela pessoa que gosta de conferir as versões clássicas de fantasias populares. Os rápidos diálogos tornam impossível alguma tentativa de tentar remasterizar o longa e tentar direciona-lo para o público infantil.
NOTA: 6/10