WordPress database error: [Table 'dale2054280952.wp_p5mwz01qvq_userstats_count' doesn't exist]
SHOW FULL COLUMNS FROM `wp_p5mwz01qvq_userstats_count`

Mark Felt (Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca) – 2017

Meu alvo de pesquisa no doutorado trata indiretamente sobre a administração Nixon. O caso Watergate, sem sombra de dúvidas, é um dos temas mais polêmicos da história política dos Estados Unidos, tanto é que anualmente são lançados pelo menos dois livros que tentam explorar pontos de discórdia na narrativa. Reconheço que é admirável o esforço de adaptar a autobiografia de Mark Felt no filme Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House (Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca, no Brasil), mas algumas questões sobre conteúdo merecem profunda discussão.

W. Mark Felt foi diretor associado do FBI, segundo cargo mais importante da agência, no período de reformulação da agência por conta da morte de J. Hoover, tomando o cargo de Clyde Tolson, braço direito do ex-diretor do FBI que se aposentou no dia do enterro de seu amigo.  Liam Neeson interpreta o agente conhecido pelo seu profundo respeito pela ordem na instituição e que mudou a história de seu país ao vazar para a imprensa dados sobre a investigação do Caso Watergate, revelando pressão do poder executivo para engavetar o caso, já que os principais assessores de Richard Nixon estavam envolvidos na história.

O diretor Peter Landesman até faz uma contextualização inicial interessante, deixando claro a posição de independência do FBI por conta de Hoover e mostrando que a mesma estava ameaçada com a indicação de L. Patrick Gray (outsider) para o posto de Diretor da agência. Após isso, inúmeros são os problemas. Destaco, no entanto, dois pontos positivos: a extraordinária atuação de Liam Neeson, que cria um vínculo forte com o espectador por conta de um personagem de personalidade sombria, e a coragem de levar adiante um projeto deste nível em um momento turbulento da política dos EUA, onde qualquer contribuição em qualquer área do conhecimento ou da arte é muito bem-vinda para discussão.

Por adaptar o roteiro diretamente dos textos de Felt, Landesman acaba criando a ilusão de que o agente representaria o lado honesto da agência, deixando claríssima a divisão de heróis e vilões. Além de um erro histórico grotesco, por exemplo, pesa negativamente no filme os diálogos entre o Diretor Gray com Felt: o primeiro, no filme, é um braço da Casa Branca que busca um expurgo no FBI;  o segundo, um herói – ou antiherói – que preza pelo justo (neste caso, a investigação do Watergate). Fica de lado, portanto, inúmeros fatores extras discutidos na bibliografia recente que fizeram Felt vazar informações para o The Washington Post, seja pela sua ambição ou mesmo por suas visões políticas.

Como filme político, Landesman deixa claro seu posicionamento ao condenar Nixon e cia, mas ao mesmo tempo toma a curiosa opção de deixar em segundo plano os crimes cometidos pelo próprio Felt, que viram nota de rodapé. Até mesmo um arco melodramático (totalmente desnecessário e irrelevante para a narrativa principal) é criado para tentar explorar o real Mark Felt, mas sem brilho algum.

Landesman tinha caminho aberto para discutir a relação de Felt com Bob Woodward e Carl Bernstein, quem sabe até revisando tópicos do clássico All the President’s Men (1976), mas incrivelmente deixa passar essa oportunidade, recolhendo um número mínimo de cenas que não expõe a metodologia dos vazamentos ou mesmo a motivação principal para os encontros secretos. Mais que isso: ilude seu público com a percepção de que Felt vazou tudo sem ser notado (Nixon, por exemplo, já sabia que Felt vazava as informações desde o começo de 1973). O principal ponto negativo, mesmo assim, é o deslocamento temporal, que não é claro e que passa em um piscar de olhos do dia da eleição (que é a marca para a primeira hora de filme) até a renúncia de Nixon, deixando um vácuo imperdoável.

Por isso não é surpresa ver que Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House deixou a corrida do Oscar tão logo os créditos rolaram na sua sessão de estreia, em Toronto. Landesman e a Sony tinham em mãos uma preciosa oportunidade de levar ao público uma história pouco debatida e com várias interrogações até mesmo para quem viveu na época, mas a opção por um filme curto, neste caso, afetou completamente o resultado final.

NOTA: 6/10

IMDb

Leave a Reply